Tardias Lamentações
Doca Ramos Mello
ddramosmello@uol.com.br
André Vargas está mortificado. “Maldita
hora em que fui levantar o braço com o punho em riste bem às barbas de Joaquim
Barbosa, ô inferno!”, avalia ele, pois uma vez tendo cumprido o gestual símbolo
dos corruptos, o mundo começou a desencavar todas as suas tramoias. Apavorado,
renunciou à vice-presidência da Câmara e ensaiou balelas para se manter
afastado do doleiro Youssef, deu desculpas sobre o uso do avião do cara,
dizendo-se “imprudente” – não é um fofo?! Entretanto, como desgraça pouca é
bobagem e o céu desabou sobre o punho fechado, acabam de descobri-lo envolvido
em processo de 15 anos (e rolando, a nossa Justiça é mais vagarosa que
tartaruga com problemas nas juntas) com o mesmo doleiro, ai Jesus, que gente
bisbilhoteira! Lá se foi a ansiada cadeira da presidência, lá se vai a vida
folgazã de dinheiro fácil, e agora, é ver a cara em todos os veículos de
comunicação debaixo de mil e uma acusações, ó tristeza... Sem contar as costas
da companheirada, em cordilheira a cada dia maior.
Que vida!
Tivesse ele contido aquele punho e
provavelmente sua rotina de falcatruas estaria salva, ai, se arrependimento
matasse... É no que dá querer ser solidário a José Dirceu e companhia bela.
Periga, agora, engrossar o pelotão da Papuda – queria tanto se mostrar a favor
da tropa encarcerada que pode acabar juntinho com eles, a ver ao menos a lua
nascer quadrada. O sol continuará redondo porque naturalmente ele vai arrumar
um empregão durante o dia – os internos da Papuda têm mais sorte que a grande
maioria dos trabalhadores nacionais, para eles não faltam vagas e são vagas
sempre boas. (Zé Dirceu mesmo arrumou posto de gerente de hotel para ganhar R$
20 mil mensais, só não deu certo por causa da inveja de gente mesquinha da
Maldadebras, que azedou o contrato).
André Vargas ainda tem muito a agradecer
a Deus por não ter dado a cotovelada que desejava em Joaquim Barbosa, porque se
tivesse feito isso, provavelmente muito mais que o céu teria desabado na sua
cabeça – não se mexe com esse ministro impunemente. Barbosa fica na dele
enquanto forças desconhecidas tomam suas dores, o que poderia levar André
Vargas a ver, ainda mais, o que é que é bom p’ra tosse, bronquite e rouquidão:
pacote completo de desgraças. Era capaz de descobrirem podres ainda mais
antigos, roubos desde a mais tenra idade, ele recém-nascido e passando a mão na
chupeta do vizinho de berçário, ou moleque a afanar a lancheira do colega de
escola... Sujeira é assim, mexeu, fede.
Em compensação, de grão em grão, vamos
enchendo nosso papo e esvaziando o pote de gente desonesta, corrupta e
ordinária que nos assola. Falta muuuuuito ainda, mas Roma não foi feita em um
só dia. Aguardemos. E peçamos a Deus que nos dê um exército de Joaquins
Barbosas, pois sentimos uma fome canina de botar as sofisticadas organizações
criminosas instaladas em nossos governos no olho da rua, no xilindró, no
inferno, no raio que as parta.
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