quinta-feira, 10 de abril de 2014

TARDIAS LAMENTAÇÕES - DOCA RAMOS MELLO

Tardias Lamentações

                                                                                                 Doca Ramos Mello
                                                                                               ddramosmello@uol.com.br


       André Vargas está mortificado. “Maldita hora em que fui levantar o braço com o punho em riste bem às barbas de Joaquim Barbosa, ô inferno!”, avalia ele, pois uma vez tendo cumprido o gestual símbolo dos corruptos, o mundo começou a desencavar todas as suas tramoias. Apavorado, renunciou à vice-presidência da Câmara e ensaiou balelas para se manter afastado do doleiro Youssef, deu desculpas sobre o uso do avião do cara, dizendo-se “imprudente” – não é um fofo?! Entretanto, como desgraça pouca é bobagem e o céu desabou sobre o punho fechado, acabam de descobri-lo envolvido em processo de 15 anos (e rolando, a nossa Justiça é mais vagarosa que tartaruga com problemas nas juntas) com o mesmo doleiro, ai Jesus, que gente bisbilhoteira! Lá se foi a ansiada cadeira da presidência, lá se vai a vida folgazã de dinheiro fácil, e agora, é ver a cara em todos os veículos de comunicação debaixo de mil e uma acusações, ó tristeza... Sem contar as costas da companheirada, em cordilheira a cada dia maior.
       Que vida!
       Tivesse ele contido aquele punho e provavelmente sua rotina de falcatruas estaria salva, ai, se arrependimento matasse... É no que dá querer ser solidário a José Dirceu e companhia bela. Periga, agora, engrossar o pelotão da Papuda – queria tanto se mostrar a favor da tropa encarcerada que pode acabar juntinho com eles, a ver ao menos a lua nascer quadrada. O sol continuará redondo porque naturalmente ele vai arrumar um empregão durante o dia – os internos da Papuda têm mais sorte que a grande maioria dos trabalhadores nacionais, para eles não faltam vagas e são vagas sempre boas. (Zé Dirceu mesmo arrumou posto de gerente de hotel para ganhar R$ 20 mil mensais, só não deu certo por causa da inveja de gente mesquinha da Maldadebras, que azedou o contrato).
       André Vargas ainda tem muito a agradecer a Deus por não ter dado a cotovelada que desejava em Joaquim Barbosa, porque se tivesse feito isso, provavelmente muito mais que o céu teria desabado na sua cabeça – não se mexe com esse ministro impunemente. Barbosa fica na dele enquanto forças desconhecidas tomam suas dores, o que poderia levar André Vargas a ver, ainda mais, o que é que é bom p’ra tosse, bronquite e rouquidão: pacote completo de desgraças. Era capaz de descobrirem podres ainda mais antigos, roubos desde a mais tenra idade, ele recém-nascido e passando a mão na chupeta do vizinho de berçário, ou moleque a afanar a lancheira do colega de escola... Sujeira é assim, mexeu, fede.
       Em compensação, de grão em grão, vamos enchendo nosso papo e esvaziando o pote de gente desonesta, corrupta e ordinária que nos assola. Falta muuuuuito ainda, mas Roma não foi feita em um só dia. Aguardemos. E peçamos a Deus que nos dê um exército de Joaquins Barbosas, pois sentimos uma fome canina de botar as sofisticadas organizações criminosas instaladas em nossos governos no olho da rua, no xilindró, no inferno, no raio que as parta.




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