Pedrinhas: mais uma ponta dos icebergs
do caos.
Marco Antonio dos Santos
Empresário e professor
Analista de Inteligência estratégica.
Os acontecimentos no complexo
penitenciário de Pedrinhas no Maranhão são apenas mais uma das inúmeras
pontas de icebergs que estão imersos no caos das más políticas públicas ou da
ausência delas nas administrações federal e estaduais desde 2003. Para
qualquer setor que se olhe – saúde, educação, economia, social, defesa ou
segurança – o que se observa são iniciativas desconexas, traduzidas em
programas pouco transparentes, embora se afirme o contrário, sempre citando
números elevados para os investimentos previstos para aplicação e que, quase
rotineiramente, passado algum tempo, são constatados escândalos envolvendo
desvios fraudulentos.
Inúmeras são as demonstrações inequívocas de que o país navega sem rumo
definido, a não ser em direção ao tal padrão FIFA, que ninguém sabe bem a quem
ou ao que serve tal paradigma. Bem, talvez alguns saibam. Mas que custa caro,
ah, isso custa.
A única política, nem clara e nem transparente a bem da verdade, mas bem
identificada pelos efeitos nefastos que está trazendo aos cidadãos, é a do
desarmamento civil. Essa é inegável, sempre sob a ótica de que desarmando o
cidadão de bem, em prazo que ninguém é capaz de prever, também os bandidos
ficarão, como que por encanto, desarmados, vem sendo empreendida com eficaz
empenho dos burocratas sem visão a serviço da mediocridade dos mentores da
ideia.
Ninguém defende melhor a si próprio, a seus entes queridos e aos seus bens do
que o próprio individuo ameaçado. Isso é antológico.
Mas o estatismo impregnado na cabeça dos socialistas ultrapassados, com visão
de fins do século XVIII, que ocupam o governo, republicanamente eleitos, convém
afirmar, persistem na intenção de manter a tudo sob controle, pessoas, bens,
produção e economia, como se isso fosse possível. Daí o intento de
penhora da vida do cidadão às forças de segurança do Estado. Pedrinhas é
o paradigma do fracasso na busca desse objetivo.
O resultado é claro: não reaja, não faça nada, leve dinheiro para dar aos
bandidos, não frequente lugares bucólicos isolados, não saia a noite; negando
ao brasileiro o direito de ir e vir, à propriedade e à legítima defesa, em
última instância.
Mais um dos resultados dessa desorientação aí está.
Facções criminosas dominam os presídios, estabelecendo todos os ditames de
conduta aos presos que passam a ter missões a cumprir nos “saidões” (matando
policiais, magistrados, promotores e indivíduos incômodos; praticando
roubos e furtos, sequestrando etc); cedendo suas companheiras para abuso de
chefões durantes períodos de visita; traficando drogas; comandando suas
organizações e outras ações delituosas de dentro dos estabelecimentos penais;
corrompendo policiais e agentes penitenciários a quem são oferecidas apenas
duas oportunidades: aceitar ou morrer. E por aí vai.
O que o país precisa é de governo.
Governo que tenha capacidade de prever e empreender políticas antidrogas
e de prevenção ao uso delas; políticas de segurança e ordem publicas integradas
à outras de cunho social com objetivos bem definidos e não apenas para dar
dinheiro sem retorno; políticas de saúde pública que reduzam a violência
vista nas portas de hospitais públicos diariamente; políticas de
repressão aos tráficos de pessoas, drogas, armas (as armas que desequilibram a
segurança pública são pistolas semiautomáticas, fuzis, metralhadoras, granadas,
artefatos explosivos com meios de lançamento e outros itens bélicos
contrabandeados, não os “revolverzinhos” 38 do cidadão) e pirataria ; políticas
anticorrupção e contra corrupção efetivas, não os arremedos divulgados;
políticas de desaparelhamento político da administração pública que
tragam competência à gestão de setores
técnicos do governo, como SENAD, SENASP, DPF e DEPEN, independentes
de cotas partidárias que nutrem feudos ineficientes e corruptos; e
políticas penitenciárias que diferenciem pessoas atuantes no crime estruturado,
de praticantes ocasionais de delitos, de criminosos passionais e de
portadores de síndromes associadas à violência...
É bem oportuno lembrar, tal e qual em situações de crise congêneres, no
episódio presente do complexo prisional de Pedrinhas, as autoridades, como que
em passes de mágica desaparecem. Filho feio não tem dono, como diz o dito
popular. É bom ser mandatário em coquetéis, solenidades e viagens ao exterior.
Aliás, alguém tem visto a Secretária Nacional de Segurança Pública por aí? Ou a
presidenta e seu ministro da (in)Justiça?
É fato também que o Legislativo não faz a sua parte e o Judiciário tenta
remendar o processo dentro do que é possível no estamento legal brasileiro.
O importante é que a avalanche da desagregação social ganha dimensão de
incontrolabilidade e se aproxima rápida. Estão sendo ignorados os sinais
de 20 de junho de 2013, quando as massas começaram o processo de tomada das
ruas. O poder das massas, embora democrático, não é bom quando não
institucionalizado sob o manto da democracia.
Talvez, tenhamos um caos de violência em junho / julho de 2014 se persistirem
os fatores determinantes agora vistos, depois o Brasil terá eleições. É bom
pensar em quem votar.
As situações que aí estão são de total responsabilidade dos políticos que aí
também estão.
Com diz um dito do interior: se não podemos trocar a carniça, troquemos as
moscas.
Marco Antonio dos Santos
Empresário e professor
Analista de Inteligência estratégica.
09 Jan 2014