Em nome da Rose
Enquanto o julgamento vai terminando vem
à tona o caso de Rosemary Nóvoa de Noronha,
chefe de gabinete da Presidência da
República em São Paulo, cabide de empregos.
Por Maria Lúcia Victor Barbosa*
De Londrina-PR
05/12/2012
O julgamento do mensalão trouxe para surpresa de muitos algo
surpreendente: pela primeira vez mandachuvas foram condenados. Mais
impressionante estar entre eles José Dirceu, o “capitão do time” no primeiro
mandado de Lula da Silva e que mesmo tendo perdido o cargo e depois o mandato
de deputado federal, graças a Roberto Jefferson, continuou a dispor de enorme
poder de mando dentro e fora do PT.
Esse acontecimento inédito se deveu ao relator, ministro Joaquim
Barbosa, o que lhe granjeou admiração e respeito de parte da sociedade. Ele foi
seguido pela maioria de seus pares, com exceção dos ministros Lewandowski e
Toffoli que atuaram como advogados de defesa dos companheiros do PT. Não se
pode também deixar de mencionar a atuação firme corajosa do procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, que se tornou alvo da sanha vingativa do PT.
Com relação ao ministro Joaquim Barbosa se pode imaginar a profunda dor
que seu prestígio causou a Lula da Silva. Não só porque ele se sentiu traído,
visto que havia nomeado o ministro e pensava que o STF era mais uma de suas
capitanias hereditárias, mas, principalmente, porque o descomunal ego do
ex-presidente deve ter sido tremendamente abalado diante de alguém que lhe fez
sombra entre cidadão esclarecidos.
Como no conto infantil Lula deve ter perguntado ao espelho mágico:
“Espelho meu, existe no momento homem mais querido do que eu”? E o espelho
respondeu: “Sim, majestade, o ministro Joaquim Barbosa”.
Para ser como gosto, politicamente incorreta, traço um paralelo entre
Lula da Silva e o ministro Joaquim Barbosa, completamente diferentes em termos
de caráter, sendo sua única semelhança a origem humilde:
Lula da Silva fez questão de continuar iletrado e é um velhaco que tudo
conseguiu apenas com muita sorte e lábia. Joaquim Barbosa estudou, trabalhou e
se tornou o homem honrado e competente que conseguiu salvar o STF das garras da
quadrilha enquistada no Executivo pelo PT. Com relação ao primeiro me
envergonho de ser brasileira. O segundo me inspira justo orgulho pelo meu país.
É vergonhoso, por exemplo, observar que o governo foi de tal modo
loteado e corrompido por Lula da Silva, via seu então primeiro-ministro, José
Dirceu, que volta e meia explode mais um tremendo escândalo de dimensões nunca
antes havidas nesse país. Como disse jocosamente José Simão, colunista da Folha
de S. Paulo, “escândalo no PT é como caixa de lenços de papel: você puxa um e
vem logo três”. “Você nunca consegue puxar um só”.
Assim, enquanto o julgamento vai terminando vem à tona o caso de
Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe de gabinete da Presidência da República em São
Paulo, um cabide de emprego e um gabinete das sombras de onde Lula exercia
comodamente seu terceiro mandato sem precisar ir à Brasília.
A bancária e sindicalista, Rose, também de muita sorte, trabalhou
durante doze anos com o chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu. Neste
período, como indica a Operação Porto Seguro da Polícia federal, ela fez um
curso completo, com mestrado e doutorado na arte de obter vantagens e indicar
trambiqueiros, falsificadores, achacadores, vendedores de facilidades, enfim,
companheiros corruptos que passaram a ocupar altos cargos. Nada, porém,
Rosemary conseguiria se não fosse sua intimidade com aquele a quem chamava
carinhosamente de tio, de Luiz Inácio, de PR.
Em nome da Rose as portas se abriam, não tanto pela “madame”, mas por
ordem do “tio” sempre solícito em atender aos pedidos de sua Marquesa de
Garanhuns. Os jornais e revistas estão cheios de detalhes das tramoias, das
fraudes, das negociatas da Marquesa e de seus protegidos e seria repetitivo
enumerá-las. Ressalve-se, porem, a sordidez a que chegaram os labirintos
escuros e tortuosos da administração publica.
Lula da Silva anda desaparecido, mas mandou dizer que o seu caso com
Rose é assunto particular. Deve até se sentir orgulhoso e se comparar a
presidentes que também tiveram amantes. Mas, ao que se sabe, outros presidentes
não nomearam nem acobertaram corruptos para satisfazer os desejos de suas
outras mulheres.
Se o caso fosse apenas particular Lula poderia ter presenteado Rose com
joias caras, carros de luxo, apartamentos suntuosos. Afinal, o “pobre operário”
deve estar podendo bancar tudo isso. Mas preferiu mandar a conta para o povo,
pois quem paga a corrupção governamental somos nós.
Enquanto não acontece outro escândalo petista um fato importantíssimo
não tem tido a relevância que merece. Refiro-me ao fracasso da expansão
econômica. A previsão de um PIB, em 2012, que talvez não chegue a 1%, nos
coloca de novo na rabeira dos Brics e configura o biênio perdido de Dilma
Rousseff. O governo camufla a inflação, altera os dados, falsifica as
informações. Inutilmente, pois a realidade acontece, independente da
propaganda. E como é pesada a herança maldita de Lula da Silva e de sua
sucessora, Dilma Rousseff.
* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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