14/03/2014 - A MICARETA DO PT
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Maria Lucia
Victor Barbosa - 14/03/2014
Sem dúvida, o carnaval foi o mais alegre de todos os tempos para o PT. Graças a sutil manobra dos embargos infringentes, filigrana manuelina utilizada no julgamento histórico do mensalão pelos melhores e mais bem pagos advogados do país e que foi aceita graças ao voto de desempate do ministro Celso de Mello, oito anos de trabalho na instância mais alta do Poder Judiciário baseado em provas do Ministério Público, no desempenho notável do ministro Joaquim Barbosa, parcialmente caiu por terra. Parcialmente, porque petistas poderosos ficarão ainda um tempo atrás das grades e a maior parte dos coadjuvantes como o gerente de José Dirceu, Marcos Valério e o grosso de seus auxiliares vão apodrecer no cárcere. Em breve, porém, José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e João Paulo Cunha deixarão a prisão onde, diga-se de passagem, desfrutam de regalias contrastantes com a situação dos demais presos. Eles poderão promover a micareta do PT, demonstrando mais uma vez que no Brasil a corrupção compensa, mesmo porque, sem fazer esforço Dirceu, Delúbio e Genoíno ficaram mais ricos na cadeia depois que de forma fulminante os companheiros arrecadaram 2,5 milhões, quantia acima do necessário para pagar as multas a que foram condenados.
Indiferente, a
sociedade brasileira não acusou a afronta ao STF nem o deboche a si mesma e,
se duvidar, José Dirceu, que já foi chamado de chefe da quadrilha, poderá voltar
a seu plano de continuidade do PT e ser eleito presidente da República.
O ministro
Joaquim Barbosa chamou de triste a tarde em que o STF voltou atrás
beneficiando réus do regime fechado que passaram para o aberto. De fato, foi
triste para a frágil democracia brasileira, porque sendo o Legislativo
facilmente comprável, algo cabalmente demonstrado pelo mensalão, e o
Judiciário estando cooptado, restará o Executivo que, se no Brasil sempre foi
o Poder mais forte, se robustecerá ainda mais conduzindo ao simulacro de
democracia que no fundo é uma ditadura. Especialmente, se o PT continuar no
comando, o país poderá descer ao nível dos tiranetes populistas de mais baixo
estrato, como acontece na conflagrada Venezuela e em outros países da América
Latina.
Note-se, que a
desmoralização do STF se evidenciou em sentenças que não são mais finais,
ficando as mesmas num vaivém baseado no direito alternativo que varia de
acordo com o humor, a ideologia, as amizades ou inimizades do juiz e não
conforme a lei.
Tal coisa deve
ter encantado ao presidente de fato, Lula da Silva, que nunca ocultou sua
aversão à lei e sua admiração pela escória mundial de ditadores da pior
espécie, inclusive, latino-americanos como Fidel Castro e outros déspotas
transfigurados de democratas. Exemplo disso no momento é o vergonhoso apoio
dado pelo governo petista ao genérico de Hugo Chávez na Venezuela, Nicolás
Maduro, que vem matando, prendendo, torturando seu povo que não aguenta mais
a violência, a inflação, a penúria. A brutalidade de Maduro é chamada
pelo PT de democracia e, se assim é entendida, ai de nós.
A visão de Lula
da Silva se reflete como não poderia deixar de ser nos seus auxiliares. Em
recente seminário que abordou conflitos fundiários, o ministro-chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, lamentou que
o “aparelho de Estado” seja obrigado a cumprir “a tarefa ingrata, inglória”
de fazer cumprir a lei, mesmo uma lei com a qual, “sabidamente nós não
podemos estar de acordo” (O Estado de S. Paulo, 03/03/2014 A3).
Além da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), nenhuma outra
entidade se manifestou. Seria interessante saber a opinião da OAB ou de algum
partido com relação a esse tipo de ideia que permeia o partido governante.
Afinal, o PT tem planos hegemônicos e de duração a perder de vista.
Chega-se, então,
às causas fundamentais do fortalecimento do PT. A primeira reside na própria
sociedade, pois como bem disse o ministro do STF, Marco Aurélio de Mello, “a
sociedade não é vítima, ela é culpada”. “Reclama do governo e se esquece de
que quem colocou os políticos lá foi ela mesma” (VEJA, 12/02/2014). A segunda
causa advém, como já escrevi várias vezes, na ausência de oposições tanto
partidárias quanto institucionais.
A par disso o PT
tem especificidades fortalecedoras: mais que um partido é uma seita que induz
ao fanatismo dos membros, possui uma mística e um ordenamento militarizado no
que diz respeito à obediência à palavra de ordem dos líderes, enquadra-se nas
diretrizes do Foro de São Paulo que são cumpridas através de um calculado
processo, aperfeiçoou a propaganda e com esta o culto da personalidade de
Lula da Silva.
Com relação ao
que se assiste no STF é prudente recordar Montesquieu em O Espírito das Leis.
Segundo ele, tudo estaria perdido se um mesmo homem ou corporação exercessem
os três Poderes. Reinaria, então, espantoso despotismo.
Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
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