domingo, 24 de outubro de 2010

RASTRO DE MOLECAGEM - FRANCISCO RIBEIRO MENDES


Dom, 24 de Outubro de 2010 09:30
Por Francisco Ribeiro Mendes, leitor do Estado de S.Paulo

Há oito anos, o rastro da molecagem está pelas ruas das nossas cidades, como aquela agressão que o candidato à Presidência José Serra sofreu no Rio de Janeiro. Mais do que uma "farsa" ou uma "mentira descarada", como disse o defensor daquele ato censurável, foi um rastro de molecagem.
Mas é tudo uma questão de entender. Se seguirmos esse rastro, vamos ver que a molecagem sai de onde são tratados os negócios públicos deste país: dos palácios, dos ministérios, das secretarias e das diretorias dos órgãos federais, estaduais ou municipais. O rastro da molecagem está nas trilhas de um governo representado por pessoas que desfilam de sunga pelos corredores de palácios; que fazem gestos obscenos diante das câmeras de TV; que dançam em plenário para comemorar impunidade de colegas que roubam a Nação; que mandam a população relaxar e gozar para superar uma crise; que usam dinheiro público para fazer turismo e comprar tapioca.
O rastro da molecagem está pelas estradas do País, onde, a cada dia, mais e mais pessoas morrem ou são mutiladas, por falta de conservação, de sinalização e de fiscalização; está no transporte urbano, sucateado e pirateado; e está na falta de investimentos nos setores produtivos e de tecnologia. O rastro da molecagem está nos hospitais sem leitos, sem médicos, sem equipamentos e sem remédios; está nas creches abandonadas com crianças doentes, desassistidas e famintas; e está no desrespeito aos aposentados, que a cada dia perdem um pouco daquilo que conquistaram com seu trabalho.
O rastro da molecagem está nas portas das escolas invadidas pelo tráfico de drogas e falidas por falta de assistência governamental; está na falta de segurança, onde a população já se sente rendida à bandidagem; está nos atestados de óbito daqueles que perderam a vida por balas perdidas; está nos arrastões, à luz do dia, nos grandes centros; e está também na baixaria dos militantes do partido do governo em época de eleição.
O rastro da molecagem está num plano de governo fajuto, com um assistencialismo barato que, além de não erradicar a pobreza, fomenta uma sociedade de malandros comprometida com a obrigação de eleger políticos populistas e anarquistas que não se importam com a vida de vadios e de moleques que levam; está na conduta dos "companheiros" que invadem terras alheias e promovem vandalismo no campo e nas cidades; e está na conveniência de um governo em facilitar, com recursos públicos, o enriquecimento de amigos e de parentes próximos. O rastro da molecagem está na ação dos indivisos amigos de um presidente, que carregaram dinheiro na cueca para construir a fama do seu líder; está nos atos de aloprados, da confiança do presidente, que roubaram a Nação com seus mensalões; está nos caminhos por onde andaram os Waldomiros, os Dirceus, os Paloccis, os Jucás, os Valérios, os Guschikens, os Mercadantes, os Genoinos, os Okamotos, os Sarneys, os Collos, os Calheiros, as Erenices da vida, que se uniram para assaltar o Brasil; e está, principalmente, nestes laranjas do poder que ganham a vida aprovando calote contra o povo.
O rastro da molecagem está na preguiça de um presidente que terceirizou seu governo para ONGs e sindicatos, para poder viver de passeios pelo mundo com sua turminha de aduladores, a contar vantagens e pregar mentiras para ganhar popularidade; está na prática de esconder a realidade do regime fascista e debochado que adota; e está no exemplo vergonhoso de censurar jornais que não costumam esconder a verdade.
O rastro da molecagem está na malversação dos recursos públicos; está na ação de um governo que cria 20 mil cargos comissionados para promover o empreguismo entre sua militância partidária e depois sair dizendo que gerou empregos; está na gestão de um mandatário que colocou o Brasil entre os piores do mundo no ranking da corrupção; e está na maneira cômoda de não se importar em ver o país em 75.º lugar na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano do seu povo. O rastro da molecagem está nas desculpas esfarrapadas de um governante para tentar justificar o injustificável; está na manha de descarregar-se da culpa imputada pelos desastres que aconteceram no País; e está na habilidade de minimizar tragédias que ocorreram por falta de capacidade de criar uma política de prevenção.
O rastro da molecagem está nos propósitos de um chefe de Estado que ignora as necessidades básicas do seu país e sai pelo mundo a oferecer empréstimos a países endividados ou afetados por crise financeira, só para ser chamado de "o homem do ano", "estadista global", "político mais popular do mundo" ou até mesmo de "o cara"; e está num governo que financia construções de pontes e hidrelétricas noutros países, ignorando os calotes que já levou, em troca de popularidade. O rastro da molecagem está na política externa, desastrosa, de quem usou a Embaixada do Brasil para fazer terrorismo em defesa de um presidente deposto de outro país, que nem sequer faz fronteira com o nosso; está na megalomania de um mandatário de se intrometer em assuntos internacionais, dizendo-se mediador de causas que não nos dizem respeito, com o intuito de se promover; está na mania de aparecer para o mundo na esperança de ganhar notoriedade, ignorando sua mediocridade; e está na irreflexão de um chefe de Estado em firmar laços de amizade e selar acordos com ditadores e terroristas temidos e odiados em todo o mundo, com objetivos midiáticos.
O rastro da molecagem está no costume de um presidente de comprar votos para se reeleger; está no caradurismo de financiar um filme sensacionalista para se promover; e está no hábito de falar besteiras para se passar por pessoa simples e merecer compaixão. Por fim, o rastro da molecagem está na conduta de um presidente que se acha honesto só porque não viu nada, não ouviu nada e não ficou sabendo que seus amigos assaltaram o País durante os oito anos em que ele o governou.

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