terça-feira, 27 de julho de 2010

AQUELES A QUEM TUDO SE TOLERA - PERCIVAL PUGGINA


Na última quarta-feira, participando de um programa de debates na Rádio Bandeirantes aqui em Porto Alegre, saí em defesa de Índio Costa quando veio à baila o que ele havia dito a respeito das relações entre o PT e as FARC/PCC. Minha posição causou alvoroço no estúdio porque, a todos, aquelas afirmações pareceram fora de contexto e prejudiciais à candidatura de José Serra. Quando passei a relatar as tantas evidências em que se fundamentara o candidato a vice-presidente na coligação PSDB/DEM, percebi que os demais participantes do programa tinham na lembrança os fatos que mencionei. Mas todos haviam ficado negativamente surpresos quando o assunto foi tratado publicamente por um candidato à vice-presidência.

É muito estranho isso. Na política brasileira, o único partido que pode atacar seus adversários é o PT. Aos petistas é dado o direito de investir contra a honra e infernizar por mil modos a vida daqueles a quem se opõem. No contra-fluxo, todo revide é apontado conduta inadequada, deselegância e causa enfado. "Isso vai prejudicar a campanha do Serra", alertam alguns, desatentos para o fato de que a campanha do Serra está prejudicada por muitos outros motivos, entre os quais a máquina publicitária do governo e o coronelismo oficializado, que troca comida por voto. Ou haverá alguém, no Brasil, que argumente de modo consistente contra essa afirmação?

O que de fato surpreende no que disse Índio Costa é a constatação de que algo conhecido, sabido e consabido, possa causar espanto quando na boca de um candidato a vice-presidente. No país da mentira, da enrolation, da mistificação assumida como prática de Estado, isso dá causa a muxoxos e narizes torcidos. Você já percebeu, leitor, que o nome do candidato virou motivo de gozação, servindo à mais vulgar ironia? Prestando-se para coisas assim, inteligentes e criativas, como menções a Funai, tanga, apito e cara pintada? Mas isso pode, porque na origem do desrespeito estão aqueles de quem tudo se tolera.

Tolera-se que Lula desatenda candente apelo da Colômbia, feito pessoalmente pelo presidente Uribe, em 2003, no sentido de que o Brasil declarasse as FARC como organização terrorista (coisa que elas são). Aceita-se que Lula cometa essa grosseria em nome de uma alegada intenção de "servir como mediador no conflito colombiano". O então ministro do Interior daquele país, Fernando Lodoño, comentou a inusitada situação dizendo que o presidente do Brasil se oferecia para uma tarefa à qual "ninguém o designou e nem está na lista das possibilidades" (Folha Online, 27/02/2003). Qualquer governo com um mínimo de seriedade, ao contrário do que fez o governo petista, deveria conceder total apoio a Uribe no enfrentamento que faz às FARC porque não existe na América do Sul - sob o ponto de vista político, social, moral e institucional - algo mais nocivo, nem mais nutritivo para o crime. E o PCC é um braço bem armado das mesmas FARC no Brasil.

O governo brasileiro, no entanto, acolhe os membros daquela organização, troca afagos ("na Venezuela tem democracia até demais, disse Lula") com o companheiro Chávez, que dá guarida às FARC em seu território. Ao mesmo tempo, somos obrigados a ler nos jornais, periodicamente, que esses bandidos usam, também, a Amazônia Brasileira como local de refúgio e fazem do Brasil através do PCC e outras organizações, uma de suas principais rotas de destino e trânsito para a droga que comercializam. Mas errado, reprovável, injurioso, incompatível com a seriedade de uma boa e reta campanha eleitoral, conforme os elevados padrões requeridos pelo TSE, foi o deputado Índio da Costa, ao trazer essa irrelevante pauta para a campanha eleitoral.

______________
* Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.
_________________________________________________________________________

http://groups.google.com/group/por1brasilmelhor?hl=pt-BR.

3 comentários:

  1. Ontem, Serra cometeu mais um arreganho terrorista. Disse que “com Dilma, as invasões do MST vão crescer”, criticou os acordos do Governo brasileiro com os países vizinhos, como a Bolívia e o Paraguai. Adotou, sem mais disfarces, a linguagem de “Rambo” da direita, como já era previsto que fizesse à medida em que sua candidatura fosse se dissolvendo.
    Digo previsto porque, embora os nossos comentaristas políticos da grande imprensa não o dissessem, qualquer pessoa, mesmo com pouca experiência política como eu, tinha diante de si esta evidência. Há exatos dois meses escrevi aqui um post intitulado Acabou o “lulismo” de Serra , afirmando:
    “Sei que é arriscado fazer previsões do tipo da que está aí em cima, no título, e se o caro amigo leitor me perguntar se tenho alguma informação de bastidor, sinceramente direi que não. Mas acho que está em curso uma rearrumação na campanha tucana. (…) Serra (…) vai aparecer como tem já aparecido nos últimos dias: o homem da autoridade, o repressor, o inimigo da esquerda latinoamericana, o “prendo e arrebento”.(…)

    ResponderExcluir
  2. Continuação

    A direita vem com sua própria e feroz cara. A nós, cabe o combate em todas as frentes, preservando o presidente dos pequenos enfrentamentos. A Lula, cabe aguardar, com a lucidez e frieza de um zagaieiro, porque é sobre ele que a onça, acuada, vai saltar.
    Esta campanha será um embate ideológico, por mais que os marqueteiros sonhem com uma campanha “propositiva” , montada à base de imagens bonitas e efeitos computadorizados”. A estratégia da direita será o medo abstrato. A nossa, as mudanças concretas, a realidade.
    E as mudanças concretas na realidade têm um nome Dilma e um “sobrenome” de família : Lula. A cada “ameaça” que a direita serrista levantar, temos que combater com uma prova, com um argumento irrefutável: isso aconteceu com Lula ou foi o contrário? Ou que aconteceu com Lula foi uma melhoria nos conflitos, soluções negociadas e avanços - mesmo que não fossem todos os que se deseja – em matéria de justiça e paz social?
    Não vamos esconder isso. Não vamos deixar que pequenos interesses eleitorais de candidatos – e eu sou um candidato, sei do que estou falando – se sobreponham aos nossos deveres para com o povo brasileiro.

    ResponderExcluir
  3. Continuação...

    Domingo, na caminhada na em Copacabana – você pode ver as fotos aqui, e aderir ao Orkut do Brizolaco – , candidatos interessados em fazer “dobradinhas” me procuraram para fazer material onde Dilma aparecesse mais discretamente, para não perder votos na Zona Sul carioca, área onde Serra tem mais – e não é tanta – força eleitoral. Sem chance. Se quiserem fazer, façam sozinhos, mas não pensem que o povo é tolo e não verá que se apóiam em Dilma nos 90% da população onde Lula é forte e a escondem onde o apoio é menor.
    Este tipo de político faz a velha política, porque pratica o oportunismo e treme de medo diante de qualquer pequena dificuldade local. Escrevam o que digo: vão ser tragados pelo povão, que vai com Dilma e com quem com Dilma e Lula estiver.
    A tática terrorista de Serra não vai colar, como não colou o seu falso “lulismo” de meses atrás. Vou desmontar suas afirmações nos próximos posts.
    Uma onda vai varrer este país. Uma onda morena, branca, mulata, negra; uma onda da cor do povo brasileiro que viu a esperança e que está se erguendo, com uma força que só o povo pode ter.
    Irresistível, invencível, que vai levar de roldão os espantalhos de papel impresso com mentiras com que tentam dete-la. Brizola Neto.

    ResponderExcluir