segunda-feira, 26 de abril de 2010

DE VOLTA O PAPO NA LAJE - DOCA RAMOS MELLO

De volta ao papo na laje
Doca Ramos Mello





_ Ó, seguinte veio, tô de cabeça zureta...

_ Novidade, rapá, tu tá sempre azucrinado, eu digo que tu tem miolo mole, tu é fraco das ideias, tudo perturba tu, cara, eu heim...

_ Né não, né não, mas eu tenho uma coisa me falando aqui no fundo da minha cuca, mano, eu tenho um passarinho me cantando umas toadas na beira dos ouvidos, tá ligado?

_ Toada...?! Aê, cheirou demais hoje, foi? Tu sabe que no nosso negócio isso é perigoso, tu vai perder o posto de vigilante aqui, óóó, vamos dar um breque nessa fissura, moleque.

_ Eu tô falando da eleição, veio. Tu já conversou com a gente aqui, tu falou que a gente tinha de votar naquela mulher do capacete, a mãe do Paco, que ela é dos nossas, é A Coroa do Cara, tu recomendou, não foi?

_ Foi, claro. Qualé o pobrema?

_ Ó, meu tio Zenildo, tu sabe, ele foi danado aí uns tempos atrás, pegou cana e tudo, mas ele entende das coisas, é um intelectual como se diz aqui na comunidade, até hoje lê livro de penca, jornal, essas coisas, mesmo ele andando sempre mais p’ra lá que p’ra cá de cara cheia depois que a Miraci deixou ele vendo navios com um corno do cacete... Bom, tu mesmo já foi pedir umas ajudas p’ra ele e...

_ Seu tio Zenildo num tá meio matusquela já?

_ Tá nada, ele diz que é do tempo e das andanças da mulher aí de dente p’ra fora que tu mandou a gente votar nela, ele diz que conhece bem a turma toda dela, parece que ele teve até intimidade aí com um homem perigosíssimo, um Zé aí que você sabe, mas eu nem devo falar o nome porque já andam metendo bronca em revista e jornal, já morreu gente aí que baste, tu sabe, eu tenho um monte de filho p’ra...

_ Desembucha, mano.

_ Ó, seguinte. O que tão falando aí é que de repente a gente monta no maior porco, tá sacando, rapá, no maior porco, tá ligado?

_ Por...porco..?

_ Ó, o pessoal tá desconfiado de que de repente estamos comprando gato por sapato, a gente vota nela, bota ela lá na cadeira do Cabra e ela vira a mão e leva todo mundo no bico, inclusive V. Exa. Metalurgíssima, saca o lance?

_ Não. Desenrola, veio.

_ Ôôô, presta atenção na fita, mano, o bagulho é sinistro! O pessoal diz aí que ela é uma dama grosseiríssima, estúpida, ruim de fazer sangue, teve até um lance de morte feia de um cara aí, e é pe-dan-te, tu manja o que é pedante? Pois é uma coisa péssima porque o pedante não reconhece o valor dos outros, não reconhece quando alguém é gente boa com ele, o pedante se acha, tipo a última bolacha do pacote, quer dizer...

_ Quer dizer...?

_ Que vai que a gente elege ela e...buuuummmm!

_ Bum...?! Ah, tu tá vendo filme demais, rapá, Lady Dil nunca foi uma mulher-bomba, pode até ser uma bomba de mulher, hehehe, mas faz tempo que abandonou essa coisa de andar armada, agora é Dilminha paz e amor, passeia com cachorrinho e tudo, hehehe...

_ Não é isso, mano, não é isso. Tu manja aquelas mulheres que se fazem de santas, mansinhas, dessas que tudo suportam do homem, inclusive cornos, pancada, cachaça, o diabo, até conseguirem casar? Pois tem muita mulher dessa que só dá pinta de mosca morta até o papel assinadinho preto no branco, aí, mano, essa mulher vira o cão chupando uma mangueira inteira, rapá, aí só Deus! Granato mesmo, tu conhece, era um garanhão, cansou de fazer a Rosária de besta, encheu a cara dela de porrada, fez o diabo, um dia casou com ela e o que rolou? Tu bem sabe que hoje Granato não é nem mais um fiapo do macho que foi, o pobre é incapaz de dizer ai porque Rosária sabe convencer ele a calar o bico, Rosária é o capeta, eu até tenho uma desconfiança aqui na minha cabeça e...

_ E o que isso tem a ver com a nossa candidata?

_ Tem a ver que o pessoal fala que ela tá bancando a boazinha, a fiel ao Cabra até a morte e tal, outro dia mesmo disse que ninguém tirava nada dela contra o padrinho e ainda falou assim, ó, nem que a vaca tussa... Só que o povo desconfia que, depois do prato feito, ela na vaga do Cabra, aí ela vai mandar todo mundo se foder de verde e amarelo, e vai dizer quem manda aqui sou eu, rapa fora, putada! Aí, veio, tu vai ver o avesso da carinha boa que ela anda fazendo com a cabeça cheia de cachinho, vai ver só o que ela vai aprontar inclusive com esse sapo barbudo que só faz puxar o saco dela achando que ela lá quer dizer ele lá também, pois sim, me engana que eu gosto.

_ Bem...

_ Bem os colete!Ele que bote sal grosso nas costas, tô cheio de ver político assim, juntinho feito dupla sertaneja, corda e caçamba, mingau e maisena, e depois, ó. Tem neguinho na certeza de que ela, de queijo na mão, vai mandar V. Exa. Metalurgíssima ver se ela tá na esquina, catar lata, vazar, mano. Na moral. Pega o lugar e depois, fui! Ainda mais que, dizem por aí, ela nem é Lady Dil porra nenhuma, se chama Dulce Maia e ajudou a atirar uma puta bomba que arrancou a perna de um coitado, olha só quem vocês querem botar lá em Brasília, se Brasília já não estivesse cambaia das pernas... Além de essa mulher ser unha e carne de um tal Estalinado, Estalingado, gringo que nunca vi mais gordo, mas tô sabendo que é um tremendo 171. Pois tu veja bem pra não confundir espingarda de caçar rolinha com espinafre de caçarolinha, isso vai dar merda, tô dizendo...

_ Tu pensa que ela pode dar um chapéu na chefia depois da eleição, se ganhar?

_ Eu só, não, meu chapa, só eu, não, fique esperto tu, fique esperto o Cabra, ó. Tu lembra aquele Zé que eu falei antes, que tio Zenildo conhece e tal? Pois essa Dulce Maia é assim com ele e ele tem ideias, esse cara tá só de boca arreganhada esperando a hora e a vez que já tiraram dele e ele ficou puto, não vai deixar barato, se liga, mano, ó.
DOCA publicou esta crônica em: http://www.papolivre.com.br




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