quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

VOCÊ JÁ FOI À CUBA, NÊGA? NÃO? ENTÃO VÁ... - MARA MONTEZUMA ASSAF



Parodiando a música de Dorival Caymmi , eu pergunto: você já foi à Cuba, nêga? Não? Então vá! Pois se existe uma viagem que vale a pena ser feita, apesar dos pesares, é para Cuba!
Em 1990 , em vista das ocorrências mundiais como a queda do Muro de Berlim e fim da União Soviética, resolvemos, meu marido e eu, arriscar uma viagem a Cuba. Formada em História, fui com olhos treinados para buscar e enxergar a realidade , pois o comunismo estertorava no resto do mundo: como estaria em Cuba? Pois bem: em Cuba o regime ia muito bem, obrigada, o povo é que ia muito mal! À cada cubano que eu procurava para conversar nas ruas percebia primeiro seus olhos varrendo o entorno, só daí ele me contava algo; e quase em seguida, a rápida chegada de "olheiros", os chamados fiscais de quarteirão que vigiam desde o conteúdo do lixo doméstico até a presença de estranhos na área e para os quais quase nada escapa, o que resultava no imediato fim da conversa. O grupo de viagens do qual eu fazia parte conseguiu obter de uma guia turística - para dar uma olhada - a sua caderneta...o documento sem o qual ela não compraria nem um grão de arroz nos armazéns do governo, e lá vimos a relação dos produtos ao qual ela tinha acesso por mês: 1 Kg de arroz, 1 litros de leite, 1 Kg de frango, 1 kg de açúcar...e por aí ia. Queria muito ver um trabalhador brasileiro sustentar sua família com esta fartura!
Fomos assediados nas ruas por jovens e crianças que insistiam em querer nos comprar os jeans e "pintabocas para mamá"...mostrando naquele tempo que , mesmo depois de mais de 30 anos de dominação,o desejo de satisfazer a vaidade pessoal ainda existia, aleluia! Vi os casarões do centro de Havana que se transformaram em cortiços caindo aos pedaços, os automóveis que não passavam de chassis com rodas e direção se deslocando pelas cidades, os ônibus-carcaças sem motores puxados por velhos tratores transportando o povo para o trabalho ou para casa ...Senti no estomago a penúria, pois o roteiro nos levou a localidades onde a refeição servida era um horror... Conhecemos a praia de Varadero, onde os únicos cubanos com direito de lá entrar eram os funcionários dos hotéis 5 estrelas exclusivos para os turistas . Mas numa das cidades pelas quais passamos, nos alojaram também numa colônia de férias para trabalhadores cubanos que se destacavam no serviço ( pois o único hotel de verdade naquela cidade estava ocupado por canadenses...sobrou a colônia para os brasileiros do terceiro mundo) . O chuveiro do meu quarto era um pedaço de esguicho atado à uma torneira na altura do meu joelho...e o abajour era aceso e desligado pela tomada da parede. Ar condicionado num calor de 35 graus? Que é isso, companheiro! A comida servida realmente não deu para comer...preferi jantar 2 fatias de pão com margarina rançosa, e rançosa por que? Porque em Cuba , em todos os dias do ano havia racionamento no fornecimento de luz...e as geladeiras não aguentavam o calor do clima cubano...Aliás, toda a comida cheirava a ranço, pois eles cozinham com gordura de porco, esqueça o óleo e ainda mais o azeite, pois são mercadorias incompatíveis com a economia da ilha! Desta forma até o arroz e feijão básico guardavam o cheiro da gordura rançosa...Chega!
De positivo encontrei o povo , cordial, receptivo, alegre apesar de tudo e sempre com esperança de dias melhores: Assim como deixa transparecer Yoani Sánchez!.

Mara Montezuma Assaf

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