Parodiando a música de Dorival Caymmi , eu pergunto: você já foi à Cuba, nêga? Não? Então vá! Pois se existe uma viagem que vale a pena ser feita, apesar dos pesares, é para Cuba!
Em 1990 , em vista das ocorrências mundiais
como a queda do Muro de Berlim e fim da União Soviética, resolvemos, meu marido
e eu, arriscar uma viagem a Cuba. Formada em História, fui com olhos treinados
para buscar e enxergar a realidade , pois o comunismo estertorava no resto do
mundo: como estaria em Cuba? Pois bem: em Cuba o regime ia muito bem, obrigada,
o povo é que ia muito mal! À cada cubano que eu procurava para conversar nas
ruas percebia primeiro seus olhos varrendo o entorno, só daí ele me contava
algo; e quase em seguida, a rápida chegada de "olheiros", os chamados fiscais
de quarteirão que vigiam desde o conteúdo do lixo doméstico até a presença de
estranhos na área e para os quais quase nada escapa, o que resultava no imediato
fim da conversa. O grupo de viagens do qual eu fazia parte conseguiu obter de
uma guia turística - para dar uma olhada - a sua caderneta...o documento sem o
qual ela não compraria nem um grão de arroz nos armazéns do governo, e lá vimos
a relação dos produtos ao qual ela tinha acesso por mês: 1 Kg de arroz, 1 litros
de leite, 1 Kg de frango, 1 kg de açúcar...e por aí ia. Queria muito ver um
trabalhador brasileiro sustentar sua família com esta fartura!
Fomos assediados nas ruas por jovens e
crianças que insistiam em querer nos comprar os jeans e "pintabocas para
mamá"...mostrando naquele tempo que , mesmo depois de mais de 30 anos de
dominação,o desejo de satisfazer a vaidade pessoal ainda existia, aleluia! Vi os
casarões do centro de Havana que se transformaram em cortiços caindo aos
pedaços, os automóveis que não passavam de chassis com rodas e direção se
deslocando pelas cidades, os ônibus-carcaças sem motores puxados por velhos
tratores transportando o povo para o trabalho ou para casa ...Senti no estomago
a penúria, pois o roteiro nos levou a localidades onde a refeição servida era um
horror... Conhecemos a praia de Varadero, onde os únicos cubanos com direito de
lá entrar eram os funcionários dos hotéis 5 estrelas exclusivos para os turistas
. Mas numa das cidades pelas quais passamos, nos alojaram também numa colônia de
férias para trabalhadores cubanos que se destacavam no serviço ( pois o único
hotel de verdade naquela cidade estava ocupado por canadenses...sobrou a colônia
para os brasileiros do terceiro mundo) . O chuveiro do meu quarto era um pedaço
de esguicho atado à uma torneira na altura do meu joelho...e o abajour era aceso
e desligado pela tomada da parede. Ar condicionado num calor de 35 graus? Que é
isso, companheiro! A comida servida realmente não deu para comer...preferi
jantar 2 fatias de pão com margarina rançosa, e rançosa por que? Porque em Cuba
, em todos os dias do ano havia racionamento no fornecimento de luz...e as
geladeiras não aguentavam o calor do clima cubano...Aliás, toda a comida
cheirava a ranço, pois eles cozinham com gordura de porco, esqueça o óleo e
ainda mais o azeite, pois são mercadorias incompatíveis com a economia da ilha!
Desta forma até o arroz e feijão básico guardavam o cheiro da gordura
rançosa...Chega!
De positivo encontrei o povo , cordial,
receptivo, alegre apesar de tudo e sempre com esperança de dias melhores: Assim
como deixa transparecer Yoani Sánchez!.
Mara Montezuma
Assaf
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