segunda-feira, 12 de abril de 2010

CANGALHA NA LEI - DOCA RAMOS MELLO


Eu digo que todo mundo aqui é ignorante e muita gente fica me olhando com desdém, havendo quem se afaste mim por conta de minha conclusão, mas eu não arredo pé dela: este país está dominado pela ignorância. Quisera eu que, ao contrário disso, o vírus da paz (que V. Exa. Metalurgíssima, por questão de modéstia ímpar, não declarou ser (nele) acompanhado do micróbio da competência atroz, da bactéria da beleza no linguajar e na realeza implícita) campeasse por nossas bandas tupiniquins, porém o que vejo é desolação. Pobreza, insensibilidade. Falta de visão, generalizada. Complexo de colonizado. Cabeça baixa e burrice. Lerdeza. Ignorância, ignorância, ignorância.

Que país!

Não fosse a gerência cabrística de porte e o Brasil já teria desembocado no mesmo local onde vacas conhecidas do anedotário popular ora dormitam, ora pastam no lodo, ou seja, o brejo. Entretanto, ainda persistem aqui e ali resistências vindas do poço de ignorância que só faz aumentar assustadoramente, ai de nós, que nem todos compreendemos o ensinamento do nosso luxuriante guru. Sorte que O Cara é, antes de tudo, um topetudo, uma rocha que não se abate diante de nada! Acaso intimidou-se com a questão mensaleira? Por algum minuto que fosse deitou maldade sobre seu fiel escudeiro ZéDirceu, o consultor internacional, quando todo mundo apontava o dedo contra ele? Postou-se do lado contrário a bichos inventados pela mídia preconceituosa como sanguessugas e aloprados? Relegou Sarney ao sereno? Criticou Geddel pela ajuda imprescindível às enchentes que tanto fazem sofrer a Bahia de todos os afoxés? Aliás, para dissipar as investidas das Maldadebras, tratou foi de assinar decreto instituindo o Dia do Acarajé, numa demonstração de feeling e afeto à comida baiana, ôxente!

Aguardemos outras iniciativas indispensáveis para o bem do povo, como o Dia do Pão de Queijo, o Dia do Caldo de Cana, o Dia do Açaí, o Dia do Frango com Farofa, o Dia do Pequi, o Dia do Tacacá na Cuia, o Dia do Pato no Tucupi, o Dia da Empada... Há tanta coisa por fazer num país onde até ontem só se falava em iguarias francesas, num flagrante abandono das comidinhas caseiras e folclóricas...

E agora, portento dos portentos, aí está V. Exa. Metalurgíssima a dar rumos novos para essas porcarias do atraso que uns e outros chamam de Leis. E Lei serve para encher barriga? Evita morte por desabamento de terra? Segura casa em cima do lixão? Previne crimes, epidemias, diarreias, assaltos? Faz o pobre mais feliz? Orienta o cidadão? Compra o bujão de gás? Protege a sociedade? Melhora o nível cultural do povo? Faz alguma coisa que preste neste mundo de Deus, enfim?

N-A-D-A!

Portanto, é de se entender que também de nada sirva neste momento de eleições, a não ser para tumultuar o processo e atrapalhar os discursos de quem tem o direito de falar o que bem quiser, como quiser, onde lhe aprouver e no tom que lhe der na telha, direito esse conquistado nas urnas, no Bolsa-Família, no aparelhamento do Estado, na Sofisticada Organização Criminosa montada no Planalto, no apadrinhamento dos companhêros, ora bolas! Então um sujeito adorado como nunca antes neste país, O Cabra que inventou o Brasil, matou os males todos que assolam a população sofrida, inclusive dando golpes de faca afiada numa língua insolente que sempre foi pedante a ponto de exigir plurais e concordâncias absurdas, pode ser tolhido na sua jornada para emplacar Lady Dil, aquele docinho de coco de ministra?

C-L-A-R-O Q-U-E N-Ã-O!

Ainda bem que ele não se intimida com nada e meteu bronca no Judiciário, essa besta do apocalipse do atraso, essa flauta encantada que arregimenta burrices, esse canto da sereia cega e desafinada, e foi só falando do absurdo que é um juizinho qualquer, uma leizinha sacana, um tribunalzinho chinfrim desses tantos que vivem fuxicando por aí, ditar o que ele pode ou não pode fazer na campanha, quá, quá, quá, quem esse pessoal pensa que é? Pois é aí que reside mais um poço de ignorância a atravancar o progresso do país! Ele é o Cabra, deixemos tudo nas mãos do nosso Guru, porque ele, grande guia, sabe o que é bom p’ra nós, conhece o caminho das pedras, pois foi o escolhido entre nós para ver a luz vindo do útero da única mãe brasileira e quiçá internacional a ter nascido analfabeta, com a graça do Senhor Divino, eis que as demais já vieram ao mundo versejando, poetando, caderno e lápis à mão para deitar discursos e cartas, mensagens e idiossincrasias, uma barbaridade com todas as letras do alfabeto, Deus nos defenda dessas criaturas! Ele é O Cara, sua família é também a única a merecer o título de semelhança com a de Jesus Cristo, a quem um dia aconselhou a conversar com Judas – e a Bíblia teria sido melhor e mais profícua, seu ensinamento conteria mais vigor, se V. Exa. Metalurgíssima tivesse vivido naqueles idos, a história da humanidade seria bem outra... Quem sabe Cristo nem tivesse sido crucificado!

Porém, quis a Divina Providência que a alma de V. Exa. Metalurgíssima encarnasse aqui, nos tempos modernos, via Garanhuns, para que pudesse cumprir seu destino de redentor desta nação. E que fazem as chamadas Leis diante desse ser exuberante? Pois pretendem com artigos solertes, cartas magnas esdrúxulas, decretos, incisos, parágrafos e covardia de letras, colocar obstáculos à grande obra desse criador, o inventor do Brasil! Pode isso? Não pode. Mas a Lei insiste...e MULTA! É o fim do mundo, o negrume da ignorância completa, o limbo da cidadania, o inferno de Dante, a derrocada do bom senso...

DE-LEN-DA EST CAR-TA-GO!!!!

Estou-me me oferecendo para ajudar a pagar as multas, se bem que V. Exa. Metalurgíssima, do alto de sua majestade, tenha gargalhado à solapa do expediente, da mesma forma que escarnece de tudo que não tenha saído de seu gênio inventivo, de sua iluminada cabeça, da ponta de seus dedos milagreiros, de sua garganta de ouro. Por sobre tanta ignorância, paira rindo à larga e sacudindo a pança, como lhe cabe à soberana pessoa, dando bom exemplo de como os demais brasileiros devem reagir quando a tal de Lei se debruçar em cima deles: que ninguém dê a menor bola! Quem precisa de Lei para viver, progredir e ser feliz neste país, quando a tábua de todos os ensinamentos e providências está contida nas parábolas emitidas pela voz de taquara rachada de nosso honorável líder? Para ele, vale o assegurado ao tempo de D.João: “O Rei é a Lei animada sobre a terra e pode fazer Lei e revogá-la quando vir que convém assim fazer”. Agora me diga, quem é o Rei aqui...? Portanto, a Lei que vá pentear macaco...

DOCA publicou esta crônica em http://www.papolivre.com.br




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