segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DEPUTADO-PRESIDIÁRIO - DOCA RAMO MELLO


                                                   

                                                         Deputado-Presidiário

 

                                                                                                Doca Ramos Mello

                                                                                            ddramosmello@uol.com.br

 

 

_ Com licença, excelência, sou Fernandinho Beira-Rio, da cela 202. Rapá, sou intelectual de esquerda, manja, tipo Chico Buarque, só que favelado, sem família chique, sacô? Eu também não faço música nem tenho olho verde, mas me defendo bem nessa vida, vendo meus bagulhos, comando minha facção, sou brother. Também tô preso aqui, mano, como tu, por perseguição, sou mais um inocente aqui, cara, tu me entende, na cadeia só tem santo, a galera lá de fora é que é FDP. Sua excelência é Ratom Danadodeladrom, o deputado-presidiário, pois não?

_ Presidiário, não, deputado, representante do povo, autoridade, dobre sua língua.

_ Qualé, rapá? A gente é mano, sossega, eu escrevo aqui a Gazeta Pirata da Papuda para denunciar os maus-tratos que a rapaziada sofre nessa joça fedorenta, sua excelência poderia me dar uma palavrinha?

            _ Sou capa da Veja, acha mesmo que vou dar entrevista para um jornaleco pirata de prisão? Em todo caso... Mas sou de-pu-ta-do, anote aí.

            _ Deputado-presidiário, eu li na revista, mano, aliás, tu tá de bocão aberto e de algemas, na capa, bela figura de terno e gravata! E dizem lá que seus parceiros tão chegando aí para fundar na camarilha...  

            _ Câmara, Câmara!

            _ ...a Bancada da Papuda, que legal! Acho o Genoíno meio babaca fazendo o tipo guerrilheiro, sou fã mesmo do Boy, sempre cheio de mulheres gostosas, aquele é dos meus! Mas a vida é assim mesmo, a gente tem de aturar todo tipo de filho da mãe, fala sério, o Brasil é do cacete.. Então, tu e teu mano, que finórios, roubaram oito milhões do governo! Rapá, roubar governo até eu, quero ver tu enfrentar dinamite para estourar caixa de banco, mostrar o berro na cara do sujeito que usa cordão de ouro, vender bagulho e comandar o esquema, quero ver assaltar na rua, mano, se for macho.

            _ Fui absolvido por meus colegas de profissão, sou puro, perdão filhinha – coloca aí esse pedido de perdão, pega bem, está anotando direitinho?  De mais a mais, não roubei nada e isso foi no século passado, e passado, caro eleitor, é morto, enterrado. Quero ver se tem mais alguém disposto a gramar num Estado que fica onde o Judas perdeu as meias, sem algum reforço na renda, é um sacrifício que só Deus e eu sabemos, aquilo é p’ra lá do fim do mundo, não é o Rio, não, não tem diversão e arte como no sul maravilha.  

            _ Mano, teus colegas choraram quando tu deu depoimento, PQP, tu é porreta, parabéns! E tu ajoelhou, agradeceu, puxa, que lance, mano!

            _ Sou um puro. São dois meses de comida ruim, banho frio de torneira, um sofrimento, uma desgraça. E eu tenho estômago irritado, só como iguarias, isso daqui é um fubá mal lavado, a comida é péssima. Além disso, tenho fobia e tive de andar de camburão, olha a maldade, sem contar as algemas, as algemas nesses pulsos acostumados somente a punhos de linho e relógios de grife!

            _ O bom de roubar o governo é que depois tu vai lá e faz aquela cara de me acertaram o coração, tu chora, reza, a canalhada chora junto, te cobre de abraço, dá tudo tão certo que tu não perde a beca. Já eu, pé de chinelo, tive de sair de circulação, tu vê que merda. Mas, tenho um plano e tu...

_ O que ocorre é que existe um tribunal raivoso que vem condenando muitos políticos, só para aparecer. Sabe o Joaquim, aquele que discursa em pé? Aquilo é uma sarna, um louco, onde já se viu condenar expoentes da nossa democracia?! Veja, meu caro Beira-Rio – você tem família grande, são muitos eleitores...? -, onde chega a perseguição política! Ou seja, sou apenas mais um entre os injustiçados, ai de mim, que tenho trauma de algemas, repito, olhe meus pulsos, coitadinhos, marcados como se fossem couro de gado, snif!

            _ Excelência, tu não precisa chorar, tá dispensado, rapá, eu manjo disso, sou presidiário como tu, não se esqueça.

            _ Eu sou deputado, já disse, me respeite!

            _ Bom, mas vamos ao que interessa. Estou pensando em me candidatar à presidência e...  Tu tá interessado em fechar comigo...? Estou criando o PPVer do P – Partido Pouca Vergonha do Presídio  - tu pode trazer teu brother,  e pode chorar na campanha, rapá!

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