terça-feira, 27 de agosto de 2013

AVIÃO NEGREIRO - ELIANE CANTANHÊDE

ELIANE CANTANHÊDE

Avião negreiro

Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo
estrangeiros, até populações que não têm médicos. Mas o meio jurídico
está em polvorosa com a vinda de 4.000 cubanos em condições esquisitas
e sujeitas BRASÍLIA a uma enxurrada de processos na Justiça.

A terceirização no serviço público está na berlinda, e a vinda dos
médicos cubanos é vista como terceirização estatal --e com
triangulação. O governo brasileiro paga à Opas (Organização
Pan-Americana da Saúde), que repassa o dinheiro ao governo de Cuba,
que distribui entre os médicos como bem lhe dá na veneta.

Os R$ 10 mil de brasileiros, portugueses e argentinos não valem para
os que vierem da ilha de Fidel e Raúl Castro. Seguida a média dos
médicos cubanos em outros países, eles só embolsarão de 25% a 40% a
que teriam direito, ou de R$ 2.500 a R$ 4.000. O resto vai para os
cofres de Havana.

Pode um médico ganhar R$ 10 mil, e um outro, só R$ 2.500, pelo mesmo
trabalho, as mesmas horas e o mesmo contratante? Há controvérsias
legais. E há gritante injustiça moral, com o agravante de que os
demais podem trazer as famílias, mas os cubanos, não. Para mantê-los
sob as rédeas do regime?

E se dez, cem ou mil médicos cubanos pedirem asilo? O Brasil vai
devolvê-los rapidinho para Havana num avião venezuelano, como fez com
os dois boxeadores? Olha o escândalo!

O Planalto e o Ministério da Saúde alegam que os cubanos só vão
prestar serviço e que Cuba mantém esse programa com dezenas de países,
mas e daí? É na base de "todo mundo faz"? Trocar gente por petróleo
combina com a Venezuela, não com o Brasil. Seria classificado como
exploração de mão de obra.

Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em
alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos
saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria
uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas.

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