domingo, 23 de janeiro de 2011

SONHO DE LIBERDADE - DOCA RAMOS MELO




Ainda não entendi bem a implicância de parte do povo brasileiro com o Battisti. Por que será que existe tanta má vontade com o pobrezinho do italiano? Por conta daquela cara sempre debochada, com um meio sorriso sarcástico, debochado, safado, afivelado no jeitão dele em todas as aparições e fotos, não pode ser, não acredito, pois temos muito mais gente cínica por aqui, inclusive com poder de mando no país, nos governos, e ditando regras mesmo para Estados miseráveis com população desdentada e cheia de vermes, e nem por isso invocam com essas santas pessoas, né não? Pelo contrário, na maioria das vezes, endeusam essa tropa – deve ser aquela síndrome que acometeu a filha do Sílvio Santos, quando de seu seqüestro...

Mas, quando o brasileiro encana com alguém, sai de baixo! Normalmente receptivo, gente boa e pouco exigente para certos detalhes, uma vez tendo cismado com o sujeito ou a sujeita, pronto, é um Deus nos acuda! Começa a perseguição, como fizeram com o ZéDirceu, aquele que garantiu: “O PT não rouba e não deixa roubar”, infeliz dele.

Da minha parte, sou favorável a Battisti, até porque ele tem aquela carinha deveras ordinária que me lembra, de certo modo, as tirinhas do Henfil, que saudade... Além disso, de que o acusam, afinal? De meia dúzia de mortes, me parece, mas ninguém para para pensar que se tratou de ideologia, de filosofia política, o italiano não tinha como fazer diferente. Além disso, a Itália está lotada de gente, quem vai reparar em algumas baixas? Sim, sei que existe um compatriota dele amarrado pelo resto da vida a uma cadeira de rodas em função dos ataques do acusado, porém, são os riscos de qualquer guerra, minha gente, é isso aí.

Fica, Battisti.

Deixem o Battisti em paz.

Soltem o Battisti.

Como vocês veem, estou em campanha, afinal afino meu ideal de justiça com o (triste memória, vade retrum!) do filho do Brasil que, no apagar dos refletores, mandou que todo mundo deixasse o Battisti aproveitar o mesmo sol tropical ao qual fez jus nosso renomado hóspede Ronald Biggs, o assaltante inglês. Só falta agora o governo conceder a ele um Bolsa Estrangeiro Acusado de Crimes, num valor simbólico de R$ 20 mil mensais – afinal, ele precisa tomar bons vinhos italianos para reverenciar suas origens, portanto carece de incentivo monetário. Depois, se ele for mesmo bem esperto como aparenta, bota sua assessoria para cuidar dos negócios e da agenda, pois deverá ganhar uma baba dando palestras sob temas do tipo “Mate uns e outros na sua terra, fuja para o Brasil e saiba o que é que a baiana tem” ou “Seja um feliz refugiado e valorizado pelo governo no país de Chico Buarque”. Ou ainda “Das facilidades para viver um vidão em ordem e progresso”. Bom, ele ainda terá de fazer aulas de samba no pé e arrumar uma mulata bunduda com quem tenha filhos brasileiros, mas isso é mole. Aí, é sair para o abraço e ganhar programa na tv.

Ah, deixem o Battisti dar consultoria nos presídios de segurança máxima. Ali, há grandes talentos desperdiçados pela sociedade preconceituosa nacional, gente do naipe de Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco, Susane Rishtoffen, Goleiro Bruno, etc. Por que razão não burilar esses potenciais, dar-lhes o desenvolvimento merecido, fazer deles novas celebridades? Seria oferecer à população padrões de sucesso, exemplos para a infância e a juventude.

Mas... Não! Vem a parcela rançosa dos brasileiros e inventa de meter o cacete no Battisti, todo mundo querendo que ele volte para a Itália, até mesmo o governo de lá faz questão que o Cara Cínica volte aos domínios de Sophia Loren, que coisa mais chata isso.

Ainda bem que O Cabra assinou a favor do italiano, afinal ele ama o Brasil como poucos nascidos aqui o fazem e já deu mostras disso, escolhendo nossos solos para fincar seu futuro. Por que não dar valor a essa escolha tão amorosa?

A assessoria de Battisti também não me parece grande coisa (recomendo Duda Mendonça, que tem mais experiência no setor), pois não soube aproveitar o gancho das enchentes nas serras do Rio, ora bolas. Por que não o colocaram lá, enlameado e de botas, a salvar aquelas pobres almas que tudo perderam nas águas e no barro? Aposto que, se o filho de Dona Lindu ainda fosse (Deus afaste de mim esse cálice e esta garrafa de água de passarinho não bebe) o presidente desta escola de samba, não teria deixado passar tamanha oportunidade de divulgação, ele nunca perdeu esse tipo de chance, foi sempre um ás na construção de um personagem. Entretanto, o rei do marketing aposentou-se e a nova presidente tem estilo contido (graças aos céus!), aí deu nessa lambança danada, com Battisti sendo injustamente execrado pela opinião pública. Por isso mesmo, eu gostava mais quando o metalúrgico era a voz, o verbo, o sangue e, acima de tudo, a opinião popular, ô tempo bão, sô! Agora, a gente tem de se esfolar para opinar por nós mesmos, porque a chamada “presidenta” (há termo mais feio que esse?!), nova “gerenta” do Planalto, não diz o que nós temos de pensar, fazer, engolir, digerir, de sorte que estamos meio sem rumo, confesso.

Nesse cenário, vaga Battisti, pobrezinho, como se ele fosse o único bandido alojado neste país de sarneys, novais, collors, jucás, roriz, calheiros, malufs e companhia bela. Acho que o Papa tem de fazer alguma coisa, tomar providências urgentes, ou vai virar bagunça. P’ra nós, honestamente, um meliante a mais (ou um a menos) não faz a menor marolinha...

DOCA publicou esta crônica em:
http://www.papolivre.com.br

2 comentários:

  1. Caraca!
    Parabéns Pereira, você estava mesmos inspirado!
    Faltou uma frase que caberia bem: O que são os aproximadamente R$5.000 mensais para manter o carinha numa penitenciária federal, para nós que estamos acostumados a pagar tudo o que já pagamos de impostos.

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  2. Caro Valter, a crônica acima e de autoria da Doca Ramos Melo, falha minha... embora concorde com tudo que elea escreveu!!! Perdão pela falha!

    Pereira

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