quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OS FATOS, ORA OS FATOS - CARLOS BRICKMANN

Do Observatório da Imprensa Circo da Notícia - Coluna de 25 de janeiro


Por Carlos Brickmann -

Os fatos, ora os fatos

Estamos comemorando o aniversário da maior cidade italiana depois de Roma, da maior cidade japonesa fora do Japão, da maior cidade nordestina do Brasil. A cidade que é chamada de bairrista e elitista, mas teve entre seus prefeitos dois negros, uma nordestina, um matogrossense, dois fluminenses, um filho de imigrantes libaneses, um neto de imigrantes libaneses. É a capital de um Estado que colocou como seus representantes na Presidência da República dois fluminenses, um pernambucano e um matogrossense. Que, entre os diversos ditadores que assolaram o país, pode orgulhar-se de dizer que nenhum nela nasceu, nem cresceu, nem se familiarizou com sua vida.

E, no entanto, boa parte da imprensa diz que São Paulo é uma cidade preconceituosa, capital de um Estado preconceituoso. Sempre há, nas mentiras, um toque de verdade: os paulistas costumam chamar todos os nordestinos de "baianos" (já os cariocas sempre preferiram chamá-los de "paraíbas"). Adhemar de Barros usou a origem matogrossense de Jânio para torpedear sua candidatura, mas Jânio venceu a eleição. Quércia era conhecido como "calabrês", Mário Covas como "espanhol", Maluf como "turco", mas todos eles foram vitoriosos nas urnas.

Uma das coisas mais impressionantes, entre muitos jornalistas, é a falta de informações sobre São Paulo.

Há muitos anos, quando o Rio comemorou 400 anos, o governador Carlos Lacerda mandou fazer um imenso bolo de aniversário. Um garoto de São Paulo escreveu a Lacerda, pedindo que lhe enviasse um pedaço do bolo. Lacerda, excelente marqueteiro, preferiu mandar ao garoto três passagens para o Rio - ele, o pai e a mãe comeriam o bolo pessoalmente, a seu lado. Um jornal carioca mandou a pauta para a Sucursal paulistana, dando o endereço do menino, na rua Duque de Caxias. Na cidade de São Paulo havia na época cinco endereços possíveis, entre ruas, avenidas, praças e largos. E nada do garoto.

Houve as piadas de praxe ("desculpe termos mandado poucas informações, só o nome e o endereço, da próxima vez mandamos também a foto") e, no dia seguinte, veio no próprio jornal a informação completa: o garoto morava em Amparo, a 125 km da capital. O pauteiro era jornalista dos bons, mas não sabia que São Paulo tinha mais de 500 municípios, alguns a centenas de quilÃ?metros da capital, todos com rua, praça e avenida Duque de Caxias.

Um repórter nordestino trabalhou por muitos anos em São Paulo. Certo dia, viajou para Ribeirão Preto. Voltou impressionadíssimo: pensou que o Interior fosse uma região agreste, e encontrou uma área riquíssima da qual não suspeitava, com agricultura próspera, indústria, comércio ativo. Era outro mundo.

Certa vez, Juscelino Kubitschek se queixou a Ulysses Guimarães de que São Paulo só gerava monstros políticos. Mas o próprio Ulysses não foi um monstro político. Foram políticos paulistas como ele, como Franco Montoro, como Olavo Setúbal, como AntÃ?nio Ermírio, que desistiram de seus sonhos presidenciais para juntar forças em volta do mineiro Tancredo Neves.

Cabe aos meios de comunicação buscar mais informação e exibir menos preconceito. A campanha divisionista, preconceituosa, que fez parte da luta pela Presidência, não é boa para ninguém e é péssima para o país. Não há vitória eleitoral que valha a estupidez do preconceito antipaulista. E que melhor ocasião do que o 457º aniversário da cidade criada pelo cacique Tibiriçá, pelos três notáveis jesuítas Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e Manoel de Paiva, pelo judeu João Ramalho e sua esposa, a índia Bartira, filha de Tibiriçá, para lembrar à imprensa que este país é um melting pot que só tem sentido se recusar preconceitos?
PRA FRENTE BRASIL!_.___






Um comentário:

  1. Dou aulas de português em Madri, na Casa do Brasil, a instituição na Espanha que aplica o exame oficial de língua portuguesa para estrangeiros. No dia do aniversário de São Paulo, nas minhas aulas, falei sobre a data, a origem da cidade e outros dados como população, PIB, etc., e que é a cidade do Brasil onde mais se nota a mistura racial e cultural que caracteriza o povo brasileiro. Sou brasileira e PAULISTA com MUITO ORGULHO!!!!

    Sandra Márcia Pereira

    ResponderExcluir