terça-feira, 12 de outubro de 2010

RESSACA ELEITORAL - DOCA RAMOS MELO


_ PQP, galega, o poste não chegou lá, pode isso, pode isso, pode isso?! Tô puto, tô puto! (Bote a cachaça aí).

_ Ué, mas você disse que ‘tava tudo dominado, que não tinha p’ra ninguém...

_ (Gut, gut, gut..eca!) Tu também vai ficar me gozando, é isso? Não acredito, deboche dentro do meu próprio palácio, só me faltava essa agora. (Encha o meu copo de novo, fazendo o favor).

_ (Tome aí). Desculpe, meu velho, desculpe, mas você falou que ‘tava no papo e ela mesma disse que nem Cristo tirava dela a vitória. Se bem que eu acho que foi Cristo mesmo que... Quero dizer, Ele deve ter ficado meio assim quando você andou se comparando a Ele, dizendo que sua família era igual a d’Ele, essas coisas, você sabe, nem sempre...

_ Schist! Calada! Deixe Cristo fora dessa porque eu já estou até o pescoço com a igreja católica, os crentes, por conta da questão do aborto, não estou precisando de mulher enchendo meu saco com isso, arre égua! Imagine que contaram ao mundo inteiro que meu poste é favor do aborto, ô gentalha.

_ Ué! E você também não é a favor? Porque foi isso que a mãe da sua filha falou...

_ (Vou mamar essa garrafa toda rapidinho). Galega, você está contra mim, é?

_ Não, claro, eu gosto demais das minhas mordomias aqui, estou com você e não abro, mas eu me lembro daquela eleição que você perdeu p’ro Collor, tá lembrado? Ele desenterrou a mãe da sua filha e ela botou a boca no trombone, disse que você queria que ela abortasse a menina e...

_ Schist! Até o espelho d’água tem ouvidos aqui, mulher, não me fale nada disso nem em sonho, ‘tá louca, viajou na maionese?! E se o tucano resolve deixar de ser oposição cor-de-rosa e abre aquele bico enorme dele? Porque fosse eu, ah, eu não deixava barato nem morto, eu metia bronca, botava até a sujeita no ar de novo, botava a filha, gravava depoimento, eu arrebentava a boca do balão.

_ E eu não sei? (Passa a garrafa aí).

_ (Aqui ó, cachaça boa essa, heim? Urgh!). Mas, eu não posso dar a moleza de alguém falar mais sobre isso, morreu o assunto, não me toque em aborto que me dá bolhas, mude o disco.

_ Por falar em disco, e o pagodeiro, heim? Perdeu também, que coisa...

_ Quer saber? Ainda tenho de agradecer por ele não ter encaçapado a Marta, porque aí sim, a encrenca ia ser de lascar.

_ (Boa mesmo essa cachaça...). Mas ele não ‘tava na frente?

_ Ah, mulher, vamos mudar de assunto e me dá mais uma talagada.

_ Se bem que o Suplicy apoiou a Mulher Pera e ela não teve voto nenhum, quá, quá, quá.

_ O Suplicy é uma comédia, nem vou falar nada.

_ Ó, pegou mal depois das eleições todo mundo aparecer com o seu poste na hora do pronunciamento dela sobre o primeiro turno e você, necas! Disseram que você não sabe perder, não tem humildade, é grosso, essas coisas.

_ Ah, vão p’ros diabos! O poste não emplaca, perde feito uma lerdeza da gota e ainda querem que eu dê a cara a tapa, que faça o tipo feliz, que me dê o desfrute de ser debochado via rede nacional de tv? Eu sou O Cara, eu não preciso ser humilde! Fiquei foi muito puto, o povo todinho na minha mão e vai a mulher e perde! Então, avalie comigo, galega, o Brasil não está inteiro no meu bolso, não, nada é exatamente como eu como eu pensava, e é aí que mora o perigo, até porque se ela ganhar agora, eu já começo a ter certo medo de que dê um pé na minha bunda depois, entende galega? Eu estou achando que o pessoal vai se unir com ela e me chutar o pau da barraca, vão achar que não precisam de mim, que eu não faço falta, tenho de me cuidar, tu sabe que rei sem coroa não vale nada, essa gentinha vai me passar a perna, estou sacando isso! Por isso mesmo tenho ideia de não passar a faixa p’ra ninguém, penso em pegar a bichinha, colar na minha barriga e sair correndo. Ah, se eu pudesse botar a mão no pescocinho daquela magricela do meio ambiente... Maldita hora que dei asa àquela cobra verde com voz de taquara rachada e diploma da faculdade. Amazônia, Amazônia... Ô merda isso!E olhe que ainda tenho de fazer cara boa para ver se ela apoia o poste, que vida! (Só bebendo mesmo, me passe a garrafa).

_ Bom, paciência, Inês é morta. (Olha aí, a garrafa tá zerando...).

_ E tem mais gente querendo morrer por aqui, pelo jeito. Olha lá, olha lá, não me irrite.

_ Um jornalista comentou que o poste perdeu porque faltou você combinar a vitória com os russos. Por que você não falou com eles, que custava?

_ Ara, mulher, os russos moram na Rússia!

_ Agora você vai deixar tudo na mão de Ciro...

_ Ciro, Ciro... Ô íngua! O que a gente tem de suportar para manter um projeto político, PQP, o Ciro é foda!

_ Acha que ele vai dar conta? (Mais um gole?)

_ (Opa, encha o copo!). Seguinte, galega, se o poste ganhar, eu ganhei e vou para o abraço. Se o poste perder, ela é quem perdeu com a ajuda do Ciro, é isso, nunca antes neste país...

_ (Vou entornar essa garrafa). Já sei, já sei.

_ Galega, cadê aqueles troços da cidadania italiana? Aqueles que você mandou fazer para dar um futuro melhor p’ros netos, lembra?

_ Tudo aqui, ó. Por quê?

_ P’ra saber, mulher, só p’ra saber. (Argh, que cachaça arretada, heim!).

_ (Ô. Gut, gut, gut…)
DOCA publicou esta crônica em: http//:www.papolivre.com.br



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