quarta-feira, 22 de setembro de 2010

TAXA DE SUCESSO - DOCA RAMOS MELLO



_ Bom dia, ministra.

_ Bom dia só se for p’ra você, meu caro, eu estou enroladíssima, isso não é hora de...

_ Que isso, ministra querida?! Não se estresse. Só estou aqui porque deu aí essa merdinha com o nosso filhote e, como já paguei a minha ‘taxa de sucesso’, vim lembrar a senhora sobre o contr...

_ Onde estamos?! Cobrar? Olhe para a minha carinha bonachona, meu tipinho capa de livro de receitas, o senhor acha que pode vir me cobrando assim sem mais nem meio mais? O senhor não sabe que a mulher na política é diferente do homem, muito mais ética? Vamos botar uma de nós na Presidência, meu caro, e eu sou ligada a ELA, o senhor não sabe com quem está falando?!

_ Sei sim, senhora, acontece que já desembolsei a ‘taxa de sucesso’ que o nosso filhote me cobrou, ministra, agora quero botar a mão na bufunfa, eu....

_ O senhor, nada. Nosso filhote...? Quem tem filho aqui?

_ A senhora. E o moço está na mira de um monte de gente, veja a foto dele no jornal.

_ Ah, que carinha bonachona! Deve ser filho meu mesmo, ora essa, saiu a mim, olha só que bonitinho!

_ Bom, ministra, o pagamento da ‘taxa de sucesso’ eu também acertei com o Vinicius...

_Vinicius, Vinicius... O compositor de bossa-nova? Ah, sim, o da Garota de Ipanema, aquele que bebia uísque e tinha muitas mulheres, bacana ele! Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, lálálá...

_ Sócio do filhote, ministra. Ele e o filhote ficaram bem na fita com as ‘taxas de sucesso’, a senhora vê que de funcionário subalterno o Vinicius passou a ser praticamente rico, e o filhote, também. E como eu contribuí com esse progresso todo, estou aqui para ver quando sai o meu negócio.

_ Subalterno...? Ele não era embaixador?

_ Estou falando de outro Vinicius, aquele...

_ Que outroVinicius? Fora o da Garota de Ipanema, não me ocorre nenhum outro Vinicius.

_ Ele era funcionário aqui até ontem.

_ Ontem é letra morta, meu caro, eu não sou Guerra a troco de bolacha maisena, comigo não tem essa de paz e amor, não se fie nessa minha carinha de quem acabou de chupar ovo...

_ Estive na Capital e...

_ Na Capital...? Como assim na Capital? ESTAMOS na capital, meu caro, isto aqui ééé Brasília, não sabia não? Acooorda! Cada um que me aparece... Se eu não tivesse de manter este meu perfil bonachão com cara de fadinha de contos infantis, acho que já teria tido um ataque, que gentinha chulé!

_ Estou falando da empresa do filhote.

_Que empresa, mané empresa. E que filhote?

_ A senhora mesma reconheceu o filhote ainda há pouco, esquisito... Uma hora não se lembra, outra...

_ Você já foi ministro um dia? Confunde a cabeça da gente, é muito serviço!

_ Ministra, acho melhor chamar Israel para esclarecer...

_ Que Israel? Dos judeus?

_ Não, ministra, o seu filho, aquele que me cobrou a ‘taxa de sucesso’.

_ O senhor é cantor, ator, modelo ou....?

_ Não, sou empresário, fiz acertos com seu filho, paguei a ‘taxa de sucesso’ e quero o meu...

_ Filho...sei... Às vezes, eu me pergunto se tenho filho mesmo, se isso não é tudo jogada da oposição para fazer água na campanha da minha chefinha... Ai, a minha vida virou um inferno! Mas, sim, devo ter filho, ou não, sim, não, sim, tenho filho, acho que sim, porém se tenho, a rotina de trabalho aqui me afastou dele, faz tempo que a gente não se vê. Dê a foto aí, preciso analisar melhor, hummm...parece comigo mesmo, bonitinho... Essas crianças crescem, a gente vira as costas e elas sempre aprontam travessuras longe da mamãe. Ele fez alguma coisa errada? Duvido, ele não faria nada que eu não fizesse, nada sem a minha concordância, somos uma família unida. Passo apostar como isso é sacanagem daquela gente perdedora e inconformada, eles vivem criando factóides (olha aí chefinha, arrasei!) na tentativa de vencer as eleições, quá, quá, quá, chamem a Ângela Guadagnim para rodar a túnica amarela, hehe!

_ Ministra, acho bom desempatar o meu negócio antes que dê zebra. A OAB está de olho na senhora.

_ OAB...? Oh, a Bê! Não sei de quem se trata. Beatriz...? Benedita...?

_ Voltando ao Israel, ministra....

_ Ah, então você vai voltar a Israel! Que bom, boa viagem!... Atchim!!!!

_ Vai um Tamiflu aí, ministra?

_ Tamiflu...? Que Tamiflu?

_ Aquele do “caraca, que grana é essa?”

_ Não sei de nada.

_ (Alô! É...?Obrigado pela informação). Chiii, ministra, acabo de saber aqui no meu celular que a senhora caiu!

_ Como assim caí...?

_ Pediu demissão.

_ Pedi? Por quê?

_ Para colaborar com as investigações.

_ Nossa, como eu sou ética!

DOCA publicou esta crônica em: http://www.papolivre.com.br


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