segunda-feira, 19 de julho de 2010

PROSÓDIA - DOCA RAMOS MELO



_ Ô Garcia, qualé a desse tal de povo...?

_ Errr... Como assim, majestade?

_ Esse povo que dizem que adivinha um monte de coisa, se vai chover, quem ganha a Copa e tralalá.

_ Ah, majestade, não é povo, é polllllllvo.

_ Que merda é essa, Garcia, que linguinha safada é essa que tu tá grudando no céu da boca p’ra falar com essa volta toda, eu heim, tô te estranhando, cabra, se assunte, homem! Tem passeata hoje, é?

_ Pollllvo, majestade é aquele bicho que tem vários tentáculos e...

_ Por isso, não. Também tenho dois desses e não adivinho porra nenhuma, só porque ele tem um monte não quer dizer que seja melhor que eu, você ou....

_ Eu disse tentáculos, majestade.

_ O quê?

_ Braços, braços. Majestade nunca foi a um aquário?

_ Já fui a um monte, no mundo inteiro, eu sou viajado, cabra, e achei muito chato, os peixes tudo me olhando atrás do vidro, uma coisa sem graça, porcaria. Se eu saio de casa p’ra ver peixe nadando no vidro... Que merreca, prefiro mil vezes ver um jogo do Coringão, a Mulher Melancia dançando funk...

_ Pois polvo é mais um bicho do mar, majestade. E esse polvo de que fala o senhor tem fama de adivinhador do futuro, ele acertou todos os jogos da Copa, inclusive o campeão.

_ Adivinhador porreta...?

_ Sim, adivinhador porreta. Ao menos na Copa ele...

_ Traz ele aqui, compra ele, dá um cargo pra ele no Senado e...

_ Mas...

_ Nem mais nem meio mais. Quero o bicho aqui p’ra fazer propaganda da minha favorita. Aí, vamos p’ras cabeças, PQP! O pessoal acredita em adivinhação, todo mundo gosta, acha bacana.

_ Majestade, eu acho...

_ Você não recebe uma puta grana aqui, não viaja de graça p’ra lá e p’ra cá, não aparece no jornal e outras coisas que nem vou falar você sabe por quê, p’ra achar porra nenhuma que eu não quero que você ache. Você é pago p’ra me babar ovo, me puxar o saco e fazer tudo o que eu mando. Portanto, juízo e vá buscar esse povo duma figa.

_ Polllllvo, majestade.

_ Arre égua, respeito é bom e eu gosto, tu pensa que vou me dar o desfrute de falar como uma bicha velha? Traga o povo aí e não me apoquente.

_ Majestade, isso não vai funcionar.

_ Vai sim, a gente treina ele. Bota uma foto da boneca terrorista – tem uma foto bem bonitona aí, de foto no chops, tem não? – na frente dele e fala que vai dar bolsa-família p’ra ele, casa popular, vale, indenização, basta só se ele dizer que ela vai ganhar. Aí chamamos a imprensa, ele fala e pronto.

_ Ele não fala, majestade.

_ PQP, se não fala, então como é que conta quem vai ganhar?

_ Aponta, majestade.

_ Aponta...? Com um monte de braço, de que jeito ele aponta, cabra, p’ra que lado? Garcia, Garcia, eu ando meio cabreiro com você, depois daquela coisa de negócio é negócio que você inventou e quase me deixou mal na fita, tu tá pensando em me aprontar mais alguma, é isso? Olha que te deixo no mar, tu viu que abandonei até o ZéD, o nosso Delúbio, tu vê aí o que vai fazer da sua vida, cabra...

_ Funciona assim, majestade: oferecem comida a ele em duas cumbucas, cada uma com uma opção escrita, por exemplo, Alemanha e Espanha. Então ele escolhe comer o conteúdo da Espanha – pronto! Quer dizer que a Espanha vai ganhar. E ganhou mesmo.

_ Então temos de pôr a boneca nas duas cumbucas, daí qualquer lado é nove e a gente ganha.

_ Mas...

_ Porra, só falta você mandar tocar o hino nacional p’ra me aborrecer, cabra, que saco. Qualé o pobrema agora?

_ Não podemos fazer isso porque essa escolha é feita diante das câmeras.

_ E daí?

_ Daí que o mundo todo vê a escolha que o polvo faz, tem de haver dois nomes, não dá para sabotar isso.

_ Dá, sempre dá. E você vai fazer isso direitinho, se vire. A gente já adestrou um povo maior que esse, tu sabe, a gente ensina ele, vicia bem o bicho, dá uma graninha mensal p’ra ele tomar lá as pingas dele com as quengas e tu sabe o resultado... Tá todo mundo adestradinho por aqui, cego, bobo, os babacas todos me adorando, me amando, me achando o maior, eu não perco p’ra ninguém, aconteça o que acontecer, nada me derruba, eu sou o rei! Portanto, um povinho a mais, um povinho a menos não vai fazer a menor diferença, corra, cabra.

_ É pollllllvo, majestade.

_ Garcia, tu anda querendo dar uma volta na Land Rover do Silvinho...?

_ Não, majestade, longe de mim.

_ Então, sacuda o corpo! E diga p’ro povo lá quem sou eu, ele que venha de joelhos, me beije a mão e faça reverência. Aí, quem sabe eu até boto ele p’ra ganhar mais uns trocados na empresa do meu filhote empresário, com essa mãozada toda seria bom, heim, Garcia, que tu acha?

_ ...Sim...? Como...?

_ Final de mandato, final de mandato, que merda! Nem tá me escutando, ôôô... Outro dia me abaixei para pegar água, ninguém pegou água p’ra mim, olha só, esse pessoal já tá de mala pronta p’ra mudar de lado e abanar o rabo p’ro próximo, PQP! Eu não vou suportar isso, não vou mesmo. Ô Garcia, tu não sabe que a favorita assumindo o meu lugar significa que eu não vou sair porra nenhuma? Então, olho na vida, meu cabra, olho na vida, tô falando, quem avisa amigo é...

DOCA publicou esta crônica em http://www.papolivre.com.br

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