segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

OUTROS QUINHENTOS PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS, APRESENTAM... - DOCA RAMOS MELLO


“Outros Quinhentos Produções Cinematográficas” apresentam...

(PS.: Sem baba-ovo, na real e na veia, trabalhos do cineasta ZéPovão Lascado)



SARNEY, O FILHO DO MARANHÃO ARRASADO E ENTEADO DO AMAPÁ: em flashback, o filme começa com Sarney em pé diante do Convento das Mercês, lamentando ter perdido o espaço, onde mantinha viva sua memória sobre os ombros da gente maranhense. Ali, relembra fatos de sua vida até o crescimento de sua fortuna, as maracutaias enooormes... Há episódios negros como a pilha de dinheiro no escritório da filha, as diretorias, os atos secretos, a amizade fraterna com Agaciel Maia e Dácio Campos, os conluios, a grana preta recebida com ilícitos, apartamentos pagos por empreiteiras... Sarney recorda como conseguiu ser presidente do Brasil por puro acaso, a multa ao empresário por conta da subida de preços no supermercado e outras encenações de sua carreira política. É um épico que também traz o imortal de fardão, cercado de marimbondos, os quais espanta com um exemplar do jornal O Estado de São Paulo lacrado, enrolado na mão direita. Na esquerda, o sinal de positivo, enquanto passam pela tela todos os estabelecimentos aos quais sua família dá nomes no Maranhão, diante da população miserável com índices de desenvolvimento humano indecentes. “Estou rico, sou poderoso, o Maranhão que vá p’ro inferno e o Brasil p’ra cucuia, rá, rá, rááááá”... Finalmente, há registros dos impropérios que V. Exa. Metalurgíssima disse sobre ele quando ainda não eram amigos de infância. Com esses elogios ao fundo, Sarney se curva e beija a mão de Lady Dil, exibindo farta dose de brilhantina nos cabelos ralos e sem tremer o bigode... Encerrando, na tela é estampado um pensamento de escritor brasileiro nordestino que sabe das coisas: “A política casa a gente até com morfético”.

RENAN, O PAI DA FILHA DA OUTRA: a fita abre com dona patroa na maior cara de corna conformada, fazendo posse de esposa sacrossanta no plenário, enquanto a amante de Calheiros posa pelada para revista. Renan achaca algumas empresas que pagam a pensão da criança por ele, calando assim a boca da mãe da criança, mas de repente ela se cansa do anonimato e pensa que pode ganhar muito mais se abrir o bico para a imprensa, quem sabe até um programa em rede de tv aberta e vrummm! Conta tudinho. O enredo mostra fazendas, bens a rodo, açougues fantasmas, gado de corte ilusionista, oligarquia e muito dinheiro, riqueza mesmo. Sempre sentado na cadeira do Senado, Renan Calheiros canta “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, trilha sonora do filme. Destaque para sua cara talhada em madeira.

DEPUTADO PRUDENTE, O FILHO DA MEIA CHEIA: foi escolhido um ator amador com cara de bobo, assim meio leso até, para dar o tom exato do personagem, que passa o filme todo a repetir “não tem nada a ver”, com a boca meio torta e as meias pesadas de dinheiro. A história é revoltante, mas reveladora, pois mostra que mesmo um pé de chinelo qualquer tem chances de roubar muito e ficar rico em Brasília.

LADY DIL, A FILHA DE UMA CANCELA BATEDEIRA: mostra a personagem desde mocinha, mas já barbarizando em assaltos, sequestros, ataques terroristas. A seguir, vem a fase dos diplomas falsos e a mão de ferro na Casa Civil, quando ela desaparece com uma funcionária da Receita Federal a golpes de agenda. Há a descrição da candidatura deslavadamente fora de hora, ela inaugurando de poste de luz a penico de louça, sempre acompanhada de O Cabra. Como não se encontrou atriz à altura da biografia porque era preciso uma mulher víbora, Ana Carolina Jatobá aceitou o papel (fase jovem), tendo filmado nas horas vagas do presídio, uma vez que passou com louvor no teste do bico pedante e do coração de pedra.

ZÉDIRCEU, O FILHO DA PUCA: a seleção para o papel principal foi difícil por exigir de cinco a seis atores, devido às muitas caras (de pau, de sem-vergonha, de larápio, de artífice do mensalão...) do biografado, mas o filme ficou ótimo. Muita ação com locações em Havana (curso de guerrilha, charutos, deboche democrático), no Sul do Brasil, em clínicas de cirurgia plástica e nos bastidores de Brasília. No final, ZéD recebe um golpe mortal de Roberto Jefferson e se dissolve no ar, mas reaparece, mais uma vez repaginado, cuspido e escarrado um clone do Ernest Borgnine na fase madura do americano. O espectador se pergunta o que faz o velho ator dos faroestes na fita e que cabelos são aqueles... É então que ZéDirceu se enrola em uma cortina e fala, com voz gutural e ameaçadora: “Sou consultoooor, eu nunca fui embora, mas estou sempre de vooooolta, arrááá!”

MARTA SUPLICY, A FILHA DO TV MULHER: o filme ainda está enrolado porque apesar de terem aparecido diversas loiras para o papel da biografada, nenhuma delas relaxou e gozou direito nos testes, não tinham a menor pinta de socialite. Se não houver outra opção, por critério de beiço, Donatella Versace será escalada. Para cenas de risco e pobreza, como visitas às favelas e comer pastel de feira, Martaxa terá a Primeira Galega como dublê – um papel perfeito para ela porque não tem falas, só poses. A produção ainda está em andamento, aguardando a decisão do PT sobre a candidatura ao governo de São Paulo. De repente muda tudo e será filmada a opção 2, MENINO PALOFINHO, O FILHO DA REPÚBLICA DE RIBEIRÃO; ou ainda a 3, CIRO, O FILHO BOCA GRANDE DE DONA MARIA (AQUELA DA VIAGEM À NY...)

ARRUDA, O FILHO DO PANETONE QUE PARIU: Muitos atores com cara de fuinha foram convidados para o papel-título, mas ninguém aceitou e ainda se ofenderam com o convite – eles consideram Arruda um canalha. Como o ator-vereador Sérgio Imoraes, de Santa Cruz-Credo Ave Maria Jesus Acuda do Sul se lixa p’ra tudo e todos, topou ser protagonista e ficou bem na fita – é um artista de grande experiência no ramo, dispensou a direção. O filme é nojento, muito roubo, muita falcatrua, mas tem seu lado ternura porque o governador chora bastante e pede perdão. Também manda descer o cacete em manifestantes, mas isso não pega nada contra ele. Tem ainda a participação de bela atriz coadjuvante, uma jovem de olhos azuis que parece filha do careca mas é, na verdade, ex-mulher dele que, depois de mamar bastante, quando vê vaca a caminho do brejo, dá um empurrãozinho na forma de entrevistas reveladoras sobre conluios, dinheiro sujo, etc. E pede sua parte no butim, afinal fez sacrifícios de monta, ô, se fez...

DOCA publicou esta crônica em: http://www.papolivre.com.br/,

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