terça-feira, 1 de setembro de 2009

INOCENTINHO DA LÍNGUA PRESA - DOCA RAMOS MELLO


O Menino Palofinho deve estar rachando de rir, afinal, o Supremo Tribunal Federal o declarou inocente no caso do escancaramento da conta bancária do caseiro Francenildo, o Quase Indigente - na majestosa definição do advogado de defesa do ex-ministro. Nem precisava defender tanto, afinal Palofinho já teve arquivadas outras 20 acusações criminais que lhe pesavam aos ombros (beleza de currículo!), e se há mais outras tantas, todas irão igualmente para a casa do chapéu por falta de provas. O bom no Brasil é a Justiça feita com esse primor que nos encanta, que país divino...
Foram três anos debaixo dessa ignominiosa suspeita de ter mandando o Mattoso abrir o sigilo da conta bancária do tal Francenildo, vê se pode uma maldade dessa! Então um ministro, homem proeminente, ex-prefeito, médico, sempre de terno, pessoa de total confiança de V. Exa. Metalurgíssima, iria se dar a tamanho desfrute?! Quem é Francenildo no contexto deste país, minha gente? Ninguém! Pó de traque, zero à esquerda, titica de galinha, o cocô da mosca do cavalo do bandido, um nada, um coió: um Quase Indigente mesmo, palmas para o advogado de defesa. Mas esses tipos, quando ousam, são de um atrevimento impressionante, sem limites. Francenildo até foi capaz de jurar de pés juntos que Palofinho era o “chefe” de umas festas lá em Brasília, enfim, falou um monte de barbaridade e ainda afirmou que continuaria sustentando tudo até a morte. Francenildo lembra aquele chinês que ficou em pé diante de um tanque de guerra, inibindo seu condutor de prosseguir na marcha - mas isso ocorreu por uma questão de honradez do condutor. Como a honradez desapareceu entre os condutores do poder nacional, aqui o trator esmagou o chinês...
Na verdade, o relator alegou não haver provas do envolvimento de Palofinho no caso, os ministros do Supremo fecharam logo um pacote de inocência e absolveram também um jornalista acusado de vazar as informações da conta do caseiro para a imprensa e fim de conversa. Sobrou para o Mattoso, mas com certeza mais tarde ele será recompensado, alguém tem de se sacrificar e segurar as pontas, vamos combinar. Depois, Mattoso se perderá na poeira do tempo e, um dia, vamos saber que ele está muito bem em algum cargo relevante e pronto, vai ficar tudo ótimo, como sempre. Justiça é para isso mesmo.
O Supremo é muito detalhista e não vai aceitando denúncias sem mais nem meio mais. Acho que eles queriam uma carta escrita de próprio punho por Palofinho, assinada e com firma reconhecida em cartório, quatro cópias, com foto 3 x 4, e mais ou menos assim:

Caro Matosso:

Escrefo para lhe pedir um faforssão, espero que possa me atender, amigo é para essas coissas, focê me entende... Estou tendo aqui um problema com esse tal casseiro desgrassado, focê sabe, ele me acussa de ser o chefe de umas festas lá na República de Ribeirão, com malas de dinheiro e mulheres alegres, hehehe, focê me entende, estou dissendo que nem sei dirigir em Brassília, é uma inshjúria e tal, mas isso pode dar merda, então... Pois é, quero que focê feshja aí se o Francenildo não tem dinheiro suspeito na conta dele, se tifer, fou acussar o cara de ganhar grana para mentir sobre mim, focê me entende... Fassendo isso, focê me ashjuda a continuar ministro e eu boto o sushjeito na cadeia, que cara mais audaciosso, onde shjá se fiu lefantar suspeitas contra um ministro como eu?Fá ser petulante no inferno!
Lefa a conta dele lá em cassa, espero focê.
Grato,

Menino Palofinho

Como o Supremo não é besta nem nada, além de destacar que nunca houve nenhuma prova, mas sim “um conjunto de ilações”, com dois palitos derrubaria a carta acima, começando pela alegação de ter sido usado nela o idioma linguapresês com o claro intuito de envolver o ministro. “Ressalte-se que mesmo Vicentinho se comunica nessa mesma língua e que, bem lembrando, também V. Exa. Metalurgíssima tem lá sua identidade com o idioma, de sorte que isso não prova coisa nenhuma”, analisaria com propriedade. Em seguida, questionaria a assinatura, o reconhecimento de firma e a foto: “Tudo falso como nota de 3 reais”.
Enfim, o que viesse o Supremo traçaria na baba, embrulharia e jogaria na lata de lixo, pois existem outros planos presidenciais para o Menino Palofinho, de sorte que ele vai continuar a aparecer nas fotos dos jornais com aquela cara de inocentinho da língua presa que ele tem e acabou-se o que era doce. No total, até agora 20 acusações já foram arquivadas, as restantes 10, 18 ou 185 que possam vir à tona serão todas rechaçadas como manda o figurino desta ditadura petista que vem se apossando do país sem que ninguém consiga dar um breque nessa malta de ordinários. Há uns problemas ainda com a merenda de Ribeirão, ao tempo que Palofinho foi prefeito, mas a ervilha citada no tal molho exigido na licitação já disse que vai ao tribunal para fazer um depoimento isentando o inocentinho de tudo. “Foi um arranjo do molho de tomate, ele não vale um ovo”, adiantou ela.
Também existe uma questão sobre o superfaturamento relacionado à coleta de lixo pela empresa Ratão Ratão, mas Palofinho está tranqüilo porque também não vai dar em nada. E quem quiser vá chorar na cama, que é lugar quente.
Em compensação, para que ele não fique triste, V. Exa. Metalurgíssima quer lhe dar de presente um mimo especialíssimo, como forma de compensá-lo por esses dissabores todos. Coisa pouca, quase simbólica, espaço bom, progressista e trabalhador – o Estado de São Paulo. O problema é que o presente vem com um monte de Quase Indigentes dentro e essa gente...
esta crônica pode ser lida também em: www.papolivre.com.br

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