segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FALA, EMPÁFIA DA SILVA! - DOCA RAMOS MELO


Mais um golaço da jornalista Jadilúcia Flores! Abraçada à missão de dar voz a todos aqueles que não costumam contar com espaço na mídia para suas manifestações, Jadi foi saber o que pensa Empáfia da Silva (irmã de Hipocrisia da Silva, também já entrevistada), depois de V. Exa. Metalurgíssima ter dito que sua época “acabou no Brasil”. Pouco habituada ao diálogo por sua própria essência e natureza, Empáfia foi naturalmente arrogante, disse que não suporta jornais porque lhe dão azia, e não quis responder às perguntas da jornalista. Mas, escreveu um depoimento, posteriormente enviado por e-mail para a redação do jornal A Piada Popular, da cidade de São João dos Perdões, onde a conhecida ‘repórter constrangedora’ trabalha. Abaixo, o texto na íntegra.


Minha cara jornalista, não sou dada a modéstia, acho inclusive a modéstia uma perda de tempo lastimável, uma pobreza típica de gentinha, sou pelo transbordamento da arrogância, pela exacerbação do ego, pelo apego incomensurável à autoidolatria, ao dito espelho, espelho meu, haverá alguém mais bela, mais inteligente, mais competente, mais necessária do que eu? Tenho esse direito porque sou simplesmente o máximo, o cume, o esplendor, a Gisele Bündchen dos substantivos abstratos, todo mundo sabe disso, sou tudo, o umbigo deste mundinho nojento que só vale mesmo pelo fato de me conter dentro dele. Para sorte dele, evidentemente.
Bem, quanto à afirmação de V. Exa. Metalurgíssima, sossegue, fique calma, é só uma piada para distrair os burros. O cabra quis apenas dizer que me concentrou em suas mãos porque ele me ama, me idolatra, é só ouvir-lhe a fala e me reconhecer ali – ele e eu somos dois amantes selvagens, ele me curte adoidado. Tanto é verdade que inventou o fim da minha época para despistar e tirar os demais interessados em mim de seu caminho, é um egoísta, me quer todinha só para ele – a gente faz orgias juntos! -, me deseja inteira a seu dispor, não admite que um átimo de mim seja oferecido a mais ninguém. Ah, que apetite!
Desde os tempos do chão de fábrica eu já vivia com ele, éramos parceiros, fizemos muitas greves juntos, enchemos o saco dos patrões, foi um tempo divertido, sabia? Naquela época, era forçada a me camuflar bastante, não podia me expor na minha pulsante integridade, pois deitaria a perder todos os planos dele, tinha de me esconder bem escondidinha, mas sou amante submissa e topei, ele me domou pensando num futuro melhor para nós dois. Olha só que futuro!
Ralei, viu? Porém, sempre estive certa de que chegaria a gozar do bom e do melhor, bastava um pouco de paciência. Ainda assim, foram anos de espera, engoli canhões como o FHC duas vezes, que nojo! Entretanto, fiquei lá, no fundo do coração daquele dito ‘trabalhador’, à espera da nossa redenção. Ele me manteve presa, acorrentada sob aquelas barbas operárias, nós dois fazendo um esforço enooorme, urgh! Sempre sonhei me exibir em plenitude um dia. Consegui!
De vez em quando, dava a minha linda carinha a tapa, mas V. Exa. Metalurgíssima tinha projetos e me incentivava a ficar na moita. “Sossega, companhêra, quando a gente chegar lá você se espalha, agora não, segura sua onda!” E eu segurei mesmo, você sabe, fiquei debaixo dos panos do ‘paz e amor’, me fazendo de morta, domada pela vara do Duda Mendonça – tudo pelo poder, minha cara jornalista, tudo pelo poder, o pudê!
Mas então, minha linda, nós chegamos ao Planalto, ao Pla-nal-to, o cabra e eu, e não precisei mais me esconder porque desde que ele entrou ali eu posso tuuuuudo. Por que você acha que nada do mensalão, de sanguessugas, aloprados ou da sofisticada organização criminosa derrubou o cabra? Obra minha, fofa. Botei o nariz dele em pé e abalei Bangu total, urruuu!!! Você notou com que garbo ele encarou as denúncias contra a empresa do filhote? Eu, querida, na cabeça. Lembra do depoimento sobre o caixa dois em Paris? Pois lhe dou um beijo, se você souber quem estava atrás das câmeras. E adivinha quem inventou a expressão “nunca antes neste país”...?! Etc., etc., etc.
Sim, sim, tive ajuda de uns e outros aparentados meus como Mentira da Silva, Metáfora Chulé da Silva e Numseidenada da Silva, mas reconheça, lindinha, eu dei e dou o tom no governo do cabra, eu alinhavo tudo! Sou um charme...
Ah, Jadilúcia, claro eu também ando por aí debaixo do braço do Tarso Genro, nos bigodes e lençois do Sarney, nas vacas profanas do Renan, nos funcionários do Senado que foram estudar no exterior com o dinheiro do povo, no topete do Collor, nas mentiras do Maluf, nas artimanhas de Orestes Quércia, no sumiço do Genoíno, na inocência do Palocci, na Ong da mulher do Paulinho, na burrice do Paulo Duque, no castelo do Edemar, no lixar-se do Sérgio Morais, no canto do Suplicy, no seguro de milhões de reais que Dona Marisa fez para os netos, no MST, na censura ao Estadão, nas cotas raciais, no discurso da Ideli Salvatti, na PEC dos vereadores, na cara e nos gestos da Dilma, na conduta do ZéDirceu, na indicação do Toffoli, nos salários dos políticos, nos Executivos, Legislativos e Judiciários, nos cartões corporativos, enfim, sou popular e necessária porque esta democracia tupiniquim me exige, me corteja, me assedia, se alimenta de mim, me devora, me chama...
Acima de tudo, estou em simbiose com V. Exa. Metalurgíssima, sou sua alma, seu sangue, sua arma. Meu cabra pode não ter um diploma universitário, como comentam as zelites rançosas brancas de olhos azuis, mas não faz a menor falta. Porque ele tem a mim, Empáfia da Silva, benhê! E quando disse que era o fim da minha linha no Brasil, ah, quis apenas revelar que hoje não mais possuo existência independente, mesmo flanando por aí, na política nacional, porque ele me personifica melhor, é meu alterego resplandecente, minha representação mais concreta, tenho nele meu amo e senhor maior, meu sinhozinho, meu rei, meu guru, meu destino, a gente é unha e carne.

Doca publicou esta crônica no :http://www.papolivre.com.br/

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