A DUPLA MILITÂNCIA DO MARIDO DE MARINA - MARIA LIMA
A dupla militância do marido de MarinaFiliado à Rede, Fábio Vaz é secretário de governo
petista pOr
MARIA
LIMA28/12/2013
BRASÍLIA — A
independência política e de militante verde do biólogo Fábio Vaz de Lima tem
custado algumas saias-justas a sua mulher, a ex-senadora e fundadora da Rede
Solidariedade, Marina Silva. Egresso da chamada “turma de Chico Mendes”, junto
com Marina e os irmãos Tião e Jorge Viana (PT-AC), ele segue, sem
constrangimentos, instalado no governo petista do Acre. Não o abalou do cargo o
tom do evento de formalização da coligação PSB/Rede, quando Marina e o
pré-candidato à Presidência e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, adotaram
o discurso do contraponto “à velha política das oligarquias” e ao “chavismo do
PT”.
Cobrado por setores do partido da presidente Dilma Rousseff,
inclusive do PT acriano, Fábio manteve a ligação umbilical com os Viana no Acre,
e o cargo de secretário Adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da
Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis do governo Tião Viana. Fábio
tenta se manter distante dos movimentos políticos da esposa, até para manter a
independência que tanto preza. É também avesso a falar com a imprensa. Procurado
pelo GLOBO, não respondeu aos pedidos de entrevistas. Marina também não quis
falar.
Paulista de Santos, ele foi para o Acre como técnico
agropecuário em busca de ajuda de um tio que morava no estado. Na faculdade,
onde Marina cursava História, começaram a militar no movimento estudantil, com
os irmãos Viana. Para a política partidária foi um pulo: primeiro PT, depois PV
e, agora, Rede. Porém, sempre integrado aos governos petistas de Jorge Viana,
Binho Marques e Tião Viana. No Congresso, foi assessor do ex-senador e agora
deputado acriano Sibá Machado.Companheiro de Marina na criação da Rede e hoje
filiado ao PSB, o deputado Alfredo Sirkis (RJ) diz que a ex-ministra e Fábio
integram um tipo de “família”, com os egressos da turma de Chico Mendes, um
grupo que transcende a questão partidária. Fábio fica mais à margem das decisões
partidárias, e assim ganha certa independência para continuar nos governos.
— O Fábio hesita em ter muita influência desde o PV. Nunca o vi
envolvido nas questões partidárias da Rede também. Isso lhe deixa com mais
liberdade para trabalhar. Ele e Marina encontraram uma fórmula de contornar essa
situação — diz Sirkis. Como secretário-adjunto de Desenvolvimento Florestal e
engajado com ONGs internacionais de meio ambiente, Fábio comandou a implantação
da agência que cuida da venda de créditos de carbono no Acre. Enquanto ele
mantém sua vida profissional no Acre, Marina e os filhos têm residência fixa em
Brasília. Em 2012, o marido da ex-senadora foi personagem de outra saia-justa na
tensa votação do Código Florestal na Câmara. Pressionado pelos verdes e por
Marina, o então relator da proposta na Câmara, o hoje ministro do Esporte, Aldo
Rebelo, fez uma inconfidência para mostrar que discurso e prática nem sempre
caminham juntos para Marina.
Aldo revelou na ocasião que, quando era ministro de Relações
Institucionais, no governo Lula, foi procurado pela ainda petista ministra do
Meio Ambiente. Ela teria lhe pedido ajuda para evitar que Fábio fosse convocado
a dar explicações no Congresso sobre seu suposto envolvimento na doação
irregular de seis mil toras de mogno à ONG Federação de Órgãos para Assistência
Social e Educacional (Fase). Segundo o Tribunal de Contas da União, a carga
milionária de madeira clandestina apreendida pelo Ibama teria sido repassada
pela ONG à madeireira Cikel. A empresa teria pago R$ 3,5 milhões à Fase e
faturado cerca de R$ 8 milhões. Fábio foi ligado ao caso por ser, a época, um
dos coordenadores do Grupo de Trabalho Amazônico e integrante da ONG Fase. Teria
influenciado o Ibama a doar e apurar o preço real da madeira clandestina de
forma irregular. A carga valeria 36 milhões, e não R$ 8 milhões. Mas não
precisou ir ao Congresso: os governistas rejeitaram o pedido de convocação.
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