Por Jussara Carvalho
Rocha
Meu nome é Jussara Carvalho Rocha e sou professora
de Língua Portuguesa. Eu sempre grafo “Língua Portuguesa” assim mesmo, com
iniciais maiúsculas.
Na semana passada, no meio de uma aula, um aluno do 7.º ano me disse sem rodeios, sem constrangimentos: “professora, ninguém aqui liga pra sua matéria!” Confesso que na hora senti uma espécie de baque seco; Língua Portuguesa normalmente não conquista multidões, mas ouvir assim, desse jeito, doeu.
Essa dor que, fermentada por alguns dias gerou
indignação e irritação, não veio por conta do que o aluno disse, exatamente,
mas pelo que representa essa fala dele, da geração dele, embora eu saiba que
esse garoto não fala por todos, mas infelizmente fala por boa parte dos
adolescentes e pré-adolescentes de hoje.
Então, eu pego a deixa da pergunta dele e devolvo:
esses meninos estão interessados, “ligam” para o quê mesmo? Diante do que se
desenrola à nossa frente, no que diz respeito à educação, vejo um futuro
triste, de massas e massas de “profissionais” incompetentes, incompletos, pelo
simples/grave fato de não terem buscado e acumulado conhecimento. Hoje, o que
mais vemos são reportagens de tv propagando quão difícil é a contratação de mão
de obra qualificada. Em um programa, certa vez, vi um grupo de estagiários de
uma empresa que disputavam pela efetivação. O teste final, e não menos
importante, foi um ditado; um simples ditado em que nenhum dos candidatos teve
100% de acerto. Muitos não ultrapassaram a marca de 60%. Triste.
O desprezo pela educação pública no Brasil
encontrou um forte aliado, ou melhor, dois: de um lado, o descaso dos próprios
familiares e alunos. Alunos esses que hoje se entregam a uma rotina de
infinitas horas diante das telas de computador, fazendo “milhares de seguidores”
nas redes sociais. Jovens que não sabem utilizar a tecnologia para dinamizar
suas vidas, mas sim, como uma ferramenta de idiotização em massa; olha Eisntein
aí na conversa (quem estiver ligado, vai entender).
Pronto: temos um sistema de educação que não educa,
alunos que não aprendem e professores que não são valorizados. Pra quê melhor??
Juntemos a esses ingredientes, os “balcões”, as “vendinhas” de diplomas. Você
quer um diploma universitário, meu filho? Então você terá! Há algumas décadas,
no período “pré-cotas”, as universidades públicas eram o alvo, o sonho de muita
gente. Uma boa formação era o que interessava de fato, por isso, o garoto
estudava, corria atrás, porque sabia que fora dessas instituições, não poderia
alcançar o que buscava. Hoje, no período franco das “cotas”e dos “fies”, que
não passam de facilitadores na formação de medíocres profissionais por
faculdades pífias, tudo leva a pensar e constatar que não há necessidade de se
estudar tanto, porque de uma maneira, ou de outra, o diploma virá.
O que temos como perspectiva de futuro é isso: uma
multidão de profissionais despreparados, oriundos de um sistema deficitário de
ensino, do básico ao superior. Aliás, por que o termo “ensino superior”? Ah,
isso é assunto para outro momento.
Nunca frequentei escola particular; vim da escola pública, num momento em que já estava sucateada. Corri atrás, corri por fora, corri na frente para realizar o que eu desejava: ser professora de Língua Portuguesa. Uma profissão desmerecida por tantos, infelizmente até por alguns colegas. Amo o que faço, sei que nasci pra isso. Não mudo por nada. Sei que é um caminho árduo, mas não tenho medo de briga. O que me entristece é o tipo de pensamento que brota em cabeças como a do meu aluno, citado no início do texto. Prevejo para ele um futuro triste, de mediocridade, de incompetência e de ignorância.
Jussara Carvalho Rocha
é Professora de Língua Portuguesa.
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