domingo, 3 de fevereiro de 2013

QUANDO A CONTA CHEGAR - CORIOLANDO BERALDO

Quando a conta chegar
O volume de fatos com os quais nos deparamos, diariamente, que nos deixam atônitos por sua incoerência, seu inusitado, sua irracionalidade, revela a existência de alguma coisa estranha nos interiores palacianos da república que a qualquer momento poderá nos surpreender.
A posição assumida pelo Brasil no episódio em que o Padre Lugo foi defenestrado da Presidência da República do Paraguai por decisão da Suprema Corte de Justiça daquele país, decisão inquestionável, sustentada nos dispositivos constitucinais vigentes, foi eivada de incoerências coroadas pelo envio do ministro chamado Patriota, das Relações Exteriores, ao país vizinho, para tentar interferir no julgamento daquela Corte Suprema de Justiça. E, eu disse ministro chamado Patriota porque, com certeza, 98% dos brasileiros são incapazes de citar o nome de três ministros do atual governo.
Comparada essa posição com a adotada sem qualquer constrangimento em relação à solução dada no caso da ausência de Hugo Chaves à sua posse para um novo mandato na Presidência da Venezuela, vê-se um comprometimento dos atuais governantes brasileiros com a ignorância deliberada do estado de direito em favor de atos políticos de preservação do poder, irreversível.
Os ideólogos, os economistas e os sociólogos dos governos do PT, passados os ventos internacionais favoráveis soprados em nossa direção nos últimos dez anos, estão metendo os pés pelas mãos, perdidos num projeto de esquartejamento da economia do país, mentindo para a população desavergonhadamente, produzindo maquiagem de números, descapitalizando empresas estatais, contabilizando dividendos antecipados, o que compromete a confiança do mercado nessas instituições, frauda a lei.
Valores altissíssimos transferidos pelo Tesouro para o caixa do BNDES para que este abasteça os cofres de instituições do próprio governo em dificuldades de caixa, procedimento que comprometeria a sobrevivência de qualquer grupo privado e colocaria na cadeia seus dirigentes, nem são questionados seja no Congresso, seja por instituições representativas de seguimentos organizados da sociedade. Basta ler nos jornais as notícias de intervenções em bancos privados por, entre outra fraudes, maquiagem de balanço.
O quadro político institucional esfacelado pela atuação populista dos governistas revela a incompetência da oposição que, já sem sangue nas veias, prossegue sua caminhada para o auto-sepultamento, em disputas alimentadas pela fogueira das vaidades, de cadavéricas figuras que não se conformam em ficar fora dos holofotes, conscientes de sua inutilidade, mas seguros de que sua presença em cena, ainda que muda, é garantia de impunidade para si e para os seus.
A sociedade brasileira vem sofrendo mudanças profundas, estimuladas por ações dos formuladores das políticas sociais nos últimos governos cuja formação ética e comportamental não encontram referência histórica.
Sem referência ética e frêios morais, as primeiras mudanças ocorreram na esfera dos costumes. Adotou-se a teoria russa do copo d"água dos anos 20 (*). Liberdade geral. Tudo pode. O Estado patrocina tudo. Sexo, drogas, assistência social plena, para todos. O orçamento do Estado arcava com os custos da liberdade total.
Durou pouco. Em cinco anos o Estado quebrou. Veio, então, nova lei. Tudo era proibido. Sexo fora do casamento, o uso de drogas, a vadiagem. Foram necessários mais de 20 anos para que a sociedade russa redescobrisse referências e princípios que sustentaram a reconstrução da base familiar que havia sido destruída.
Essas referências não são ensinadas nos movimentos sindicais nem nos comícios em portas de fábricas. Como a democracia permite isso, mesmo esses sem referência podem chegar até à Presidência da República, carregando consigo seus iguais, também sem referência mas, exatamente, por lhes faltarem princípios, só têm acolhimento em cobertores do Estado, até porque não são confiáveis.
Sem dúvida, há em gestação um projeto de permanência no poder do grupo atual como, de resto, acontece com todos que ascendem ao topo do mando sem princípios éticos e sem qualquer noção de respeito pelo patrimônio público.
No caso do grupo atual, o projeto passa pelos caminhos do enfraquecimento das instituições, da quebra do Estado, da desfiguração da estrutura familiar e dos valores que permitem ao ser humano cultuar o respeito por si próprio.
O Brasil e os brasileiros estão vivendo um período de euforia inusitado. Uma farra às custas do Estado jamais vista. Uma gastança desenfreada. O Estado está sendo consumido pela imcompetência e a irresponsabilidade de seus agentes, mandantes e mandados, diferindo a apresentação da conta que, sem dúvida, vai chegar.
Os acionistas minoritários da Petrobras e da Eletrobras, às quais, logo, logo se juntará o Banco do Brasil, estão sendo escandalosamente prejudicados pelos interesses eleitorais e populistas dos atuais governantes sem qualquer reação, nem mesmo dos órgãos responsáveis, diretamente, pela proteção desses acionistas.
O carrossel da inconsequência está rodando. Tem muita música, muita dança, muita alegria. Todos querem participar da festa. Mas, com toda certeza, quando a conta chegar muitos dos que estão promovendo a festa de agora já estarão vendendo "palestras" em algum país miserável da África.
Coriolando Beraldo
Foi consultor jurídico e primeiro secretário do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da Itaipu Binacional.
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(*) referente ao Comunismo na URSS (Séc. XX);
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