domingo, 29 de maio de 2011

DESOCUPADOS - RALPH J. HOFMANN

DESOCUPADOS
Ralph J. Hofmann
“ Fac et aliquid operis, ut semper te diabolus inveniat occupatum” (S. Jerônimo – Cartas CXXV . XI)
Faça alguma coisa para que o Diabo sempre te encontre ocupado conforme S . Jerônimo no idioma inglês tornou-se o dito popular:
“The Devil finds work for idle hands” , ou seja, “O Diabo encontra o que fazer para as mãos ociosas.”.

Isto nunca foi mais óbvio do que o Brasil dos últimos anos. Cento e cinqüenta mil ou mais pessoas receberam empregos públicos em 8 anos e muitas dessas pessoas jamais tinha ocupado cargos de qualquer significado ou recebido qualquer renda significativa.
Repentinamente estes amigos do poder estão empregados. Mas estarão ocupados?
Temos de considerar que são cento e cinqüenta mil pessoas numa administração pública em que os quadros vinham sendo enxugados, limpados, inclusive pelo uso intensivo da informática. Não há mais amanuenses sentados em carteiras altas escrevendo com penas de ganso e tinteiros. Não se usam pessoas p;ara verificar longas listas de nomes e algarismos que depois são manualmente computados numa maquina de calcular eletro-mecânica.
Mas este exército de pessoas sem o que fazer sempre procurará formas de ser um desocupado mais sênior, procurará estar cada vez mais perto de seus superior, seja ele chefe de seção ou um dos (40 hoje, talvez 100 amanhã) ministros.
Tudo que deve ser feito para que o país não pare já é feito normalmente pelos funcionários estatutários, e depois, os trabalhos destes não é valorizado. São meras formigas operárias.
Cabe ao desocupado funcional inventar alguma coisa. Mesmo para poder dizer em casa ou no bar após o expediente: “... como eu dizia ao ministro esta tarde...”
Já a maioria dos ministros também só tem uma vaga idéia do que fazer. E tem de inventar algo para aparecer. Afinal, a cada quatro anos há uma campanha política . Ele precisa aparecer um sua cidade de origem, Caraminholas do Campo e bradar: “Caraminholenses do Campo como ministro eu fiz ...” e desfiar um rosário de realizações.
Então um desocupado sugere: “Ministro, quem sabe um curso que ajude os ignorantes a ignorar melhor “; ou ainda “Ministro, já existe campanha de prevenção da AIDS, prevenção da dengue, prevenção da hidrofobia. Vamos fazer uma campanha contra a síndrome de abstinência sexual”.
O ministro, que possivelmente só entende de contagem de votos acha brilhante e contrata algumas das pessoas de sua relação ou da relação do desocupado funcional, que não conseguiram emprego no ministério porque a lista veio de cima, para elaborarem um programa.
O Ministro da Desocupação Funcional e o Desocupado funcional passam semanas se sentindo atuantes e úteis. Gastam milhões do seu orçamento e assim provam que estão ocupados Sentem-se realizados.
Enquanto isto o dinheiro que sai pelo esgoto poderia ter produzido um milhão de kits de ciência aplicada, podia ter pagado prevenção contra zoonoses em 150 municípios ou poderia ter sido aplicado na redução da dívida pública

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