domingo, 5 de setembro de 2010

SIGILO, ONDE ESTÁS QUE NÃO RESPONDES...? - DOCA RAMOS MELO

Sigilo, onde estás que não respondes...?


Eu começo a achar que a minha missão nesta terra inclui desmontar fofocas de peso que rondam a vida nacional, só pode ser isso. Tenho uma bronca grande com a Maldadebras, faço qualquer coisa para desbaratar suas invencionices, detesto aquela mania de a empresa esculhambar com quase todo mundo, mais ainda com gente proba e bem intencionada. Mas, pelo jeito, esta é uma tarefa inglória, a coisa não dá mostras de arrefecer, pelo contrário, todo dia aparece um novo boato, é muito desagradável.

Pois bem, cá estou novamente, agora para falar da quebra de sigilo da homônima de uma famosa senhora que atua na Semana Santa. E já vou esclarecendo que não teve nada de motivação política no episódio, parem de procurar cabelo em ovo, não foi nada disso, porque não tem disso no Brasil, aqui a democracia está assegurada e os direitos do cidadão, idem. Como eu, vocês já deviam ter percebido que o governo de V. Exa. Metalurgíssima é ético até a medula, portanto todos nós estamos a salvo dessas indecências, como nunca antes neste país, ué!

Acontece...

É o seguinte. Existe um departamento do governo que concentra o andamento da grana de todo mundo. Os funcionários guardam informações sobre a quantas andam a fortuna e a miséria de cada um de nós, é obrigação deles. E por quê? Porque nós devemos satisfações de nossa vida financeira ao Estado e ainda temos de pagar cinco meses de impostos para que tenhamos acesso aos excelentes serviços de educação, saúde e segurança pública, entre outros itens, que o governo dá p’ra nós, o governo é maravilhoso. Sim, sim, sei que às vezes o sujeito fica na fila dois, três anos até fazer a cirurgia de emergência recomendada pelo médico, mas isso é porque nem todos têm vontade de ir a Cleveland se submeter a procedimentos americanos do norte, sem contar que outros morrem de medo de avião e, acima de tudo, há muitos brasileiros doentes no Brasil, gente que não acaba mais, é preciso um pouco de compreensão e paciência – nem tudo pode ser para daqui a quatro meses, nem mesmo cirurgia de emergência, oras. Ou seja, então o cidadão, revoltado e grosseiro, impaciente, dá de morrer de tanto esperar e a família não entende que são os desígnios divinos: faltam fé e religião a esse povo, vamos combinar.

Ainda outro dia, vi na tv, no programa eleitoral do Poste de Peruca, umas escolas públicas incríveis, os estudantes uniformizados lindamente, cada um deles diante de um computador novinho, coisa moderna, um luxo. Essas maravilhas o governo dá p’ra nós, mas muitos não sabem apreciar devidamente e só sabem reclamar, mostrando em reportagens, também na televisão, crianças que andam quilômetros debaixo de sol e chuva para chegar, de pés no chão, a salas montadas sob árvores, ai, que gentinha! Tudo mentira.

Mas, falando da nossa vida financeira, vou esclarecer a situação: vamos que, de repente, do nada, você, que sempre foi um Zé Mané, fica riquíssimo da noite para o dia, um magnata. Claro está que os homens do tal departamento vão desconfiar da sua conduta, claro! “Onde foi que esse sujeito descolou essa grana assim, de uma hora para outra?”. E concluem, sim, que você pode até ter roubado alguém, feito alguma falcatrua, enfim, sua fortuna pode ser ilícita, cara. Aí, você vai ter de se explicar porque aqui, como disse o homem de cabelos implantados, o governo não rouba nem deixa roubar, entende? Você é obrigado, então, a dar conta da dinheirama que caiu do céu na sua vida, explicar bem explicadinho, provar por A mais B que essa riqueza lhe é devida, eis a questão de ordem e lisura, afinal ninguém enriquece sem dar duro, que negócio é esse? E mesmo dando duro, é preciso tempo, conhecimento, competência, cuidado, etc. Assim, como quem estivesse encostado debaixo da marquise à espera de a chuva passar e lhe caísse a fortuna ao colo, só bobo acreditaria...

No caso da moça em pauta, desconfiaram dela com propriedade porque sua vida financeira deu uma guinada absurda, impensável, ela ficou riquíssima sem mais nem meio mais, mesmo sendo uma simples – valorosa, quem sabe, porém pobrinha – assalariada como subempregada de um zoológico, onde ganhava um punhadinho roto de reais, donde se pode avaliar que não tivesse, coitada, grandes capacitações, cultura ou competência para um trabalho mais elaborado, no qual ganhasse grandes somas de dinheiro. Nem mesmo uma herança como aquela que Eike Batista vai deixar para os filhos de Luma de Oliveira tinha a moça, portanto...

...Como explicar que, passados uns três, cinco aninhos no máximo, essa moça viesse a se tornar simplesmente uma grande empresária bem sucedida e riquíssima?!!! Pois é, acreditem que ela, com a maior cara-de-pau do mundo, fez negócios de porte com uma empresa chamada Mamatalemar, comprando por alguns milhões uma tal de Babadequiabocorp, tornando-se praticamente uma megainvestidora! Isso deixou os funcionários do departamento de controle do nosso dinheiro de boca aberta. Como aconteceu? De onde ela tirou tanto dinheiro? Como foi que ficou inteligente e sagaz nos negócios assim, num passe de mágica? De onde tirou tanto tino para os negócios num piscar de olhos? Bom... O pai dela é político...Arrááá, tem gato nessa tuba! Vamos examinar a vidinha dela, vamos abrir o sigilo dela para saber se não andou surrupiando dinheiro de alguém, ou pior ainda, do povo brasileiro, ora essa. Olho nela, façamos uma devassa completa, ela que dê conta desse progresso instantâneo ou então, cadeia! Dinheiro, mocinha, não é miojo.

Assim, os homens também descobriram que essa moça comprou, pela bagatela de R$ 47 milhões de reais, uma fazendinha, onde cria gado nelore... Acaso você aí já ouvir falar de gado nelore? São umas vaquinhas que custam o preço de um apartamento de luxo, mugem em diversos idiomas e não pastam, fazem degustação gastronômica. Também demandam serviços especiais de veterinários com PHD, água Perrier para o banho, psicólogos, hair stylist, pedicure, personal trainer... Enfim, luxo classe AAA.

Há alguma motivação política nisso, por acaso? Evidentemente que não. Apenas uma investigação pertinente por conta do enriquecimento da moça cujo nome remete a uma colega de Bíblia de Maria Madalena. Enriqueceu na maciota, vai ter de provar de onde tirou grana, provar que pode comprar quantas vacas de grife quiser, na lisura. Porque no mais, no que diz respeito ao pensamento filosófico de V. Exa. Metalurgíssima, eis sua definitiva pá de cal sobre o assunto: “Ficam dizendo ‘quebrou o Sigilo, quebrou o Sigilo, quebrou o Sigilo’, ora, onde está esse Sigilo, que não aparece?”

Procurado, Sigilo mandou dizer que morreu faz tempo. Foi atropelado pelo jovem playboy Menino Palofinho, quando o rapaz dirigia loucamente em direção a uma casa de tolerância chamada República de Ribeirão Preto, em Brasília. No acidente, foi vítima atroz o caseiro Francenildo, que sendo honesto e humilde, perdeu também o emprego, para deixar de ser besta.

DOCA publicou esta crônica em: http://www.papolivre.com.br

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