domingo, 15 de agosto de 2010

PROPAGANDA ELEITORAL



Minha gente!

Claro que estou chamando vocês de ‘minha gente’ só agora, na hora das eleições, porque depois do voto, babau, não me venham encher o saco com nada, quero distância de eleitor, Deus me livre!. Vocês estão carecas de saber que me candidato só mesmo para ficar cada vez mais rico, sou fundador do PPV (Partido Puta Veia) e um puta veia não fica inventando moda, vai direto ao ponto. Estou cheio de ver político dizendo que quer acabar com a pobreza, cuidar da segurança, redistribuir renda e outras porcarias, tudo falsidade pura... Pois eu não quero nem saber e não disfarço. Quanto mais pobre, miserável e analfabeto o cidadão, melhor, a gente dá bolsa isso, bolsa aquilo e fica tudo certo, o pobre é fissurado numa esmola... E esmola é bom porque prende a pessoa, vicia, é quem nem droga.

Bom, sou candidato à reeleição para o Senado. Coloquei Dumaégua Júnior, meu filho, como meu suplente, eu não sou tatu, depois pego uma vaga de ministro e meu filho segura minha cadeira. O bom da política é isso, tudo muito bem ajeitado p’ra nós, os políticos. Quem quiser doar dinheiro para a minha campanha, entre no site do partido, tem tudo lá, explicadinho. E nada de dizer que não tem grana porque Dona Marisa não trabalha, não faz porra nenhuma e deu uma nota p’ra campanha da Boneca Terrorista, aliás, até decorou como usar o site p’ra fazer doação, tanto que ela ensina (ela fala!) lá como é que é. Se até ela sabe, francamente, qualquer bocó também será capaz.

Não tenho nenhuma plataforma agora (se bem que me atrai aquela história de apedrejar mulher adúltera, a gente pode ampliar o conceito apedrejando também eleitor infiel, de repente...), como nunca tive, o meu negócio é arrebentar de ficar rico, continuar com as minhas maracutaias, as empreiteiras, as empresas que eu coloco p’ra fazer negócio com o governo e que me agradecem abarrotando minhas contas bancárias. Muito em breve, com toda certeza, terei meu próprio Estado tal e qual o Sarney tem o Maranhão dele, botarei os nomes da minha família em tudo quanto é coisa e, se algum jornal se meter a besta, mando calar a boca. Ou seja, estou no caminho certo sem precisar aparecer nos vídeos afanando uns trocados como a Deputada da Bolsa Grande, que burra, e todos os seus companheiros de rolo – amadores, amadores, que coisa mais desagradável. Esses vagabundinhos depreciam a política roubando pouco e porcamente, que gentalha!

Chamei uma espécie de Duda Mendonça p’ra me ajudar e o homem disse que eu tinha de me espelhar em V. Exa. Metalurgíssima ou em Lady Dil, o que significa que teria de sair por aí mostrando os dentes em risadinhas amarelas e me dizendo Dumaégua Paz e Amor ou dar uma boa aloirada no cabelo, para agradar aos eleitores, tem cabimento? Eu tenho o meu próprio modo de atacar, sou descarado, aberto, não fico cercando Lourenço, comigo é na lata, quem quiser votar que vote, quem não quiser que se iluda com essa cambada de falso que promete o mundo, mas não vai fazer porra nenhuma. Cada um se engana como pode, tem eleitor pior que marido corno, eleitor goooooosta... Comigo, nem vem que não tem, não estou na política para defender os interesses de ninguém a não ser os meus, foi assim desde a primeira vez em que me candidatei. Naquela época, o pessoal acreditava, como acredita até hoje, que o cara pobre, miserável, operário, negro, índio, era um santo, um sujeito bem intencionado: pois uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Eu, um bom exemplo, sempre fui pobre e, malandro, vi logo que trabalhando feito uma besta honesta nunca teria carrão (uma dúzia!), mansão (outra dúzia, hehehe...), amantes novas e lindas, empresas, dinheiro a dar com pau em pouco tempo, por isso me candidatei. E me dei bem p’ra dedéu, estou milionário.

Agora, quero ampliar meu patrimônio, estou apoiando o Agaciel Maia para deputado, grande cara, quero contar com ele para empregar gente minha, pois não vou tirar um tostão do bolso p’ra ajudar ninguém, mas é preciso dar cargos para manter o voto.E o papai aqui pretende a Presidência, por que não? Ou vocês acham que só O Cara merece viajar pelo mundo, usar roupão de algodão de faraó e ter a mulher reformada a ponto de parecer ter virado no avesso, e tudo de graça? Eu também quero enriquecer filhos meus, tenho um caçula burro feito uma porta, pretendo fazer dele um grande empresário, na política esses milagres brotam, brotam, é uma beleza!

Existe o tal Ficha Limpa, mas não me incomoda, eu sou safo, um ordinário muito esperto, podem fazer de tudo que comigo não pega, sou mais ladino que o Maluf. Querem escarafunchar minha vida? Que escarafunchem! Eu sou liso. E se descobrem minhas tramóias, não nego e até reforço, é isso aí. Votem em mim, eu vou me reeleger mesmo porque o povo não entende nada e acredita em histórias da carochinha, o povo é tudo um bando de bobo, nunca vi tamanha burrice, mas enfim, a vida é dos espertos, uns nascem para a glória, como eu, outros, para manada. Não fosse a manada e V. Exa. Metalurgíssima não estaria aí, por cima da carne-seca e perigando eleger aquela mulher esquisita que ninguém suporta, mas isso tudo é obra do povo, ora. Cada político tem o povo que merece, o nosso é sopinha no mel p’ra nós, agradeço aos céus.

De vez em quando surge um idiota como o caseiro Francenildo ou aquele garoto Leandro, que pediu a V. Exa. Metalurgíssima uma quadra de tênis (faz-me rir!) na favela, mas a gente cuida de enterrar os ideais e sonhos cretinos deles com a pá da política do venha a nós. Porque ao vosso reino, temos ojeriza.

Não trabalho, não presto, sou ordinário: para o Senado, reeleja Dumaégua da Silva, o seu salafrário!

DOCA publicou esta crônica em: http://www.papolivre.com.br












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