A Unidos da Sofisticada Organização Criminosa já está divulgando, aliás há muuuuuito tempo, seu samba-enredo deste ano, intitulado Tá Tudo Dominado, é Nóis na Fita de Novo com Lady Dil nas Cabeças, Vem que Tem Messetê, Bolsa e Cota, do sambista Inacinho Nove Dedos de Garanhuns, em parceria com diversos outros nomes, figurinhas carimbadas do barracão da escola. Gente como ZéDedo Leve do Mensalão, Palofinho da Mary Jane, Silvinho Caranga Importada na Faixa, Roberto Compadre e De Lúbio, o Rechaçado. E mais um bando de puxa-sacos, malandros e pulhas imprestáveis que passam o ano todo nas cercanias da agremiação disputando vagas no desfile.
O enredo fala sobre o plano de uma corja para dominar para sempre a tribo * kipovuburruá, índios inocentes habitantes do agreste de Kizumba-lelê, país lendário cujas terras, governo e riquezas são objetos de cobiça de um líder avesso às letras, porém ladiníssimo, o cacique Sapukururu Barbudo Sentado no Trono. Uma vez chefe e não mais podendo comandar a tribo novamente por impossibilidades impostas por uma coisa démodé que os guerreiros kipovuburruás chamam de lei (que ele não entende nem respeita, mas como tem muita gente olhando lhe convém disfarçar a ignorância e se fingir de bobo), eis que Sapukururu Barbudo escolheu a guerreira companhêra Karadekatraia, a Russa Grande Cabeça que Cospe Fogo, para ficar em seu lugar e dar continuidade às suas maracutaias.
Com este propósito, Sapukururu Barbudo passa dias, meses, anos, passeando com Karadekatraia para lá e para cá diante dos kipovuburruás, na floresta, no rancho fundo, no sertão, à beira do rio, no calor, no frio, nos pampas, na saúde e na doença, no campo, na cidade, no ar e no mar, divulgando Grande Cabeça com cocar, sem cocar, com colar de contas, sem colar de contas, com uma arara no ombro, com uma coruja nos pés, de frente, de costas, de ladinho, rindo como uma hiena, apontado o dedo para os demais guerreiros, fazendo bico, cuspindo fogo...
* Observação pertinente: o índio kipovuburruá nasce com uma deformação anatômica acentuada desde os primórdios da tribo. Trata-se de uma bolsa enorme que cai como um avental por sobre o abdome do indivíduo e vai aumentando até cobrir-lhe também a região das costas e do traseiro, de modo que isso o deixa mole para o trabalho, e tornando-se uma espécie de sacola gigante que envolve a pessoa. Para o pajé Nunku Tukaké-Pió, trata-se de uma providência divina, pois se o/a guerreiro/a não sente vontade de trabalhar, “a bolsa provê”, ou seja, quem tem bolsa, tem tudo.
Acompanhemos os versos de Inacinho Nove Dedos de Garanhuns! Esclarecemos que, não sendo capaz de fazer nada além da sinfonia de encantamento que toca na orelha da ignorante nação kipovuburruá, ele se apoderou (mas, arrota ser o autor, assim como diz ter inventado muita coisa, inclusive o mundo, a roda e agulha com buraco para passar a linha) da melodia do samba-enredo “É Hoje”, de Didi e Mestrinho, feito para a União da Ilha em 1982.
Minha esperteza vem do ABC
E me levou à passarela
Fez da tribo kipovuburruá
A maior idiota da terra
Vavá, sou que eu manipulo essa cambada
Sou rei, no meio de uma gente tão lesada
Eu vim me fingindo de bobo
Cheio de paz e amor p’ra me arregalar
O povo inteiro é cego
Deu espaço p’ra eu me espalhar
Eu caí de boca
P’ra minha turma enricar
Me fingi de tonto
P’ra nenhum deles cobrar
Eu menti!
Eu gosto do trono e ali quero ficar
Vou botar a Katraia pra segurar o meu lugar
Eu fingi!
Acredito!
Acredito ser o mais safado
Nessa luta de candidatos que aí há
Quaraquaquá
Aí vem o dia
Da Lady Dil
E a oposição
Que vá à PQP
Diga ZéDirceu!
Diga ZéDirceu
Se há na avenida
Alguém mais safado que eu
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