segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

PREVISÕES PREVISÍVEIS PARA 2010 - DOCA RAMOS MELLO




Repórter constrangedora do jornal A Piada Popular, em São João dos Perdões, Jadilúcia Flores se dedica a reportagens inusitadas e seguindo essa linha de atuação, foi entrevistar Ubirapitanga Jaçanã Mikay, anão mudo da tribo dos Akarietês-Ubá-Ikezili-Fufurunfum do Rabo Longo, legítimo grupo indígena tupiniquim miscigenado (com coreanos da região da rua Zé Paulino, na capital paulista), que vive às margens do rio São Francisco, mas mantém loja de informática pirata na Galeria Pajé (também na capital de São Paulo).
Trata-se de grupo étnico bastante fechado, recluso mesmo, que não fala com branco, não dá mão a preto e não carrega embrulho, adora Cauby Peixoto, veste-se com calças jeans da Diesel e faz a dança da chuva em cima de trio elétrico – segundo seu pajé, Abaeté Kaetano de Campos Wsaki, a tribo é um caldeirão cultural de influências...(?). Como sobrevive com uma dieta à base de caldo de cabeça de surucucu e guisado de escorpião, é uma gente muito belicosa, irritadiça e de pouca paciência. Neste ano que entra, os akarietês votam pela primeira vez, já tiraram seus títulos de eleitor. E como não sabem bem a idade de ninguém no grupo, o governo achou mais justo não barrar esse legítimo desejo de cidadania, de sorte que todos, inclusive os curumins recém-nascidos, são eleitores. Vão votar em massa.
Ubirapitanga não fala nadinha, mas usa a linguagem de sinais aprendida com um guru indiano em sua temporada de meditação em Nova York – índios brasileiros legítimos têm lá suas esquisitices e os akarietês não comem mandioca, não suportam a memória dos irmãos Villas Boas e nem conhecem arco e flecha, o negócio deles é no 38, só para começar.... Jadilúcia convenceu o anão a divulgar suas previsões para 2010 e achou por bem manter o viés lingüístico tortuoso de seu discurso, de sorte que não corrigiu seu jeito de se expressar – digamos que Ubira, como é chamado na tribo, é uma espécie de V. Exa. Metalurgíssima em termos de linguagem (mesmo de sinais) e metáforas. E ele só faz previsões políticas.
Vejamos, pois.

Mim apontar grande pobrema no Brasir no ano que nasce, enorme caveira de burro vai se debruçar sobre umas umas caixas com telinha, cheia de vontade de comer o povo com farinha, dar vida boa para o Zé e mandar nas gentes todas. Povo ficar esperto para evitar Grande Capacete de Guerrilha pousar em cadeira de encosto alto no cerrado. Pobrema de penca, desgraça, fogo de morro acima, água suja de morro abaixo, companhêros, organização criminosa de boca de caçapa, putaria lascada. Melhor guerreiros jogar sal grosso sobre a terra de Macunaína e dispersar tropa de choque de Grande Capacete ou então sifu... Menas merda? Ô qual, nunca antes merda tanta...hihihi!!!

Terra da garoa que se cuide! Na mesma lua do ataque maior de Grande Capacete de Guerrilha, mim ver no horizonte duas capivaras adestradas no ar seco federal , uma de língua presa e mansa, porém lavada e enxaguada na esperteza, vinda dos interiores da terra do trem das onze, outra de língua solta e boca cearense sem fronteiras, as duas de olho gordo no acento de Zoio de Sapo. Atrás dessas línguas, Madame Cabelo Loiro Relaxa e Goza faz cruz e aponta boca inchada para os piratiningas. Fruto que dá na cerca, Chuchu precisa de apoio para vencer essa parada, caciques de bico grosso nunca vacilar ou perder beirada, aí, grande desgraça, estrela negra sobre a cabeça de Borba Gato, sujeira, mardição brava!

No ar, no mar, na terra, homens dos governos de aqui inventar modas diversas para enfiar a mão no bolso dos guerreiros e embolsar tutu surrupiado. Depois da cueca, da meia, do bolso, da bolsa grande, lances novos, sacadas doidas. Mulheres usar sacolas de silicone vazada nos peitões e carçolas com enormes sacos na banda da bunda, tudo para encher de bufunfa. E homens mandar fazer perucas de fundo falso e cuecas samba-dinheirão até o pé, com embornais camuflados, frente e verso. Todo mundo roubar junto, rindo feito hiena, pança balançando, tudo putada. Povo cada vez mais idiota.

Cacique fêmea de tanga verde, perdida da tribo, passado ilibado manchado por ter sido tititi e carça com companhêro barbudo e sem letras, não chega a lugar nenhum, só vai fazer muvuca e gastar dinheiro à toa, desperdício de tempo e saliva. Ilusão não levanta casa. Sonho não senta praça.

Chefe bigodudo e ladrão vai continuar reinado nos lençóis e no Brasir, ninguém tasca, vovô sargado viu a uva de primeira, passou corrente no vinhedo, roubou muita parreira, mas sabe histórias de monte, conhece o caminho das pedras, não sai nem com reza brava. E ainda vai botar mais gente sua em posto de mando e riqueza, filha, filhos, netos, primos, muito poder no cerrado, na caatinga, no sertão, na PQP. Marimbondo FDP. Em dupla sertaneja com pai velho de criança fora da oca, vai manter a rédea sobre praça nordestina com sorriso de orelha a orelha. Deboche, podridão oligárquica. Ô vida de gado, povo marcado, azar do Brasir.

Te contei não? Marido de dona Alaíde sonha voltar para quebrar banco, escola, qualquer coisa, quá, quá, quá...

Décima casa de 2010, tcharammm! Ou vai ou racha ou arrebenta a borracha. Cada cabeça, uma sentença: gente burra tem de morrer pastando. Capim rareia, capim rareia...

DOCA publicou esta crônica em:
http://www.papolivre.com.br

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