A semana que passou foi muito boa, tive até dificuldades em selecionar assuntos dos quais tratar aqui, mas creio que meu esforço será reconhecido porque usei um critério racional na escolha, só vou contar o melhor. Assim, vamos à vaca fria.
Antes de mais nada, a entrevista de Caetano Veloso para Sônia Racy no Estadão. Caê, todo mundo está bege de saber, gosta de falar empolado, nunca diz ‘impraticável’, prefere ‘inexequível’, até nome de show dele carece de tradução simultânea ou a os fãs podem ficar sem rumo. Zii e Zie – que tal, heim? Os novos baianos que ‘causaram’ na década de 60 e agora já são baianos velhos de cabelos brancos sempre primaram por um discurso quase barroco, rococó mesmo, talvez uma vingança deles por conta de o Brasil inteiro comentar que o baiano é sossegado, mole, devagar, preguiçoso, e só gosta de rede e água de coco – fora do coco, desde que alguém tome a providência de abrir esse coco para ele, sabe como é, meu rei, aquela casca duuuura, oxe... Folclore puro, mas uma conversinha singela entre Caê e Gilberto Gil precisa de, no mínimo, uns cinco intérpretes. Juramentados, se possível.
Pois muito bem.
Eis que Caê abriu mão de construções camonianas e discussões socráticas, para ir direto ao ponto dizendo que V. Exa. Metalurgíssima é analfabeto. A-nal-fa-be-to, assim, na lata. Santíssimo Sacramento do altar, a casa caiu! Gente de todos os matizes se pronunciou a respeito, Nelson Motta a favor, um escritor que ninguém conhece meteu a lenha no compositor de Alegria, Alegria, teve quem aplaudisse, quem ficasse injuriado, foi um forfait completo. E Caê lá, na rede, só apreciando a tsunami. Ou não.
Dias antes, a atriz Maitê Proença havia dito, em um programa de tv que “o brasileiro não está preparado para ouvir a verdade”. E não está mesmo. Por isso inventou essa desgraceira do politicamente correto, eufemismos imbecis, metáforas esquisitas, tudo conversa de cerca-lourenço para não abrir o verbo. Porém, trata-se de algo bastante seletivo... Quando Collor de Mello caiu na esparrela que o levou ao impeachement, foi chamado de ladrão, ordinário, sem-vergonha, cafajeste, cheirador, oligarca, embusteiro, o diabo a quatro. Mas, Collor tinha contra ele alguns quesitos que permitiam esses ataques frontais: bem nascido, bonitão, viajado, rico, chique, falava bem, zelite enfim. Então, tudo certo. Agora, apontar qualquer coisa negativa em um “pobre” metalúrgico de nove dedos, filho de mãe que nasceu analfabeta, sertanejo retirante, sindicalista, feio, portador de português de beira de estrada e voz de taquarais rachados, bebedor de 51, ah, pode não, é preconceito...
Pois Caetano mandou ver, ó pai, ó!
Mudando de saco para mala...
Segundo: já ouviu falar de Vladimir Poleto? Não?! Então, fique sabendo que esse bravíssimo brasileiro tinha somente oito anos em 1964, mas isso não o impediu de arregaçar as mangas para lutar contra os inimigos da pátria. Um herói! Foi companheiro de bravura do garotinho Paulo Okamoto, também com oito anos, na trincheira, veja você, dois meninos imberbes e de calças curtas que poderiam estar soltando pipa ou jogando futebol de capotão, eis que esses conscientes brasileirinhos deixaram de viver sua infância risonha e franca para se dedicar ao Brasil, hipi, hipi, urraaaa!!! E como Paulo Okamoto já foi indenizado pelo governo (à nossa custa, à nossa custa, adoramos bancar essa anistia!) por esse sacrifício que ele fez quando ainda nem sabia dizer os nomes dos Estados brasileiros e suas capitais, mas pegou em armas para defender os brasões da nossa terra, Vladimir Poleto também quer seu quinhão. Nada mais justo. Pelo que li esses dias, estavam para julgar o mérito da indenização, mas a gente apóia, apóia, ele merece.
Quem é Poleto atualmente?
Bem... Sabe aquela história dos milhares de dólares que vieram de Cuba para aquecer a eleição de Lula? Era ele o portador da bufunfa e isso até deu uma confusãozinha, sabe como é, tem sempre uma oposição FDP querendo deturpar tudo, mas graças a Deus o antigo herói mirim, pinçado com a mão na massa, digo, nos dólares, se revelou surpreso com o conteúdo do pacote. “Jurava que fosse uísque!”, disse ele candidamente, embasado na fama da terra de Fidel como fabricante de destilados nobres. Poleto afirma ter sido perseguido no período da ditadura militar e há momentos em que chora ao se lembrar que “quase” foi preso naqueles duros tempos de batalha, quando ele e Okamoto eram conhecidos como Dois Filhinhos da Luta, ô dó! Portanto, indenize-se o herói e os invejosos que parem de ficar com picuinha. Espero que logo apareça um cineasta para filmar a saga dos garotos contra a ditadura, título bom já tem...
E para arrematar, yes, queridos, nós temos auxílio-reclusão! Todo preso em regime fechado ou semiaberto tem direito a essa bolsa social, atualmente de R$ 710,08 por filho dependente até os 21 anos, não é uma coisa linda e justa?! Pelo menos Edyleide Vivianne acha. Ela, que tem três filhos com Juca Caveira e outros dois com Renildo Monte de Pó, presos em unidades de segurança máxima, está feliz da vida com seus cinco auxílios, afinal a filharada é tudo “dimenor”. Sem contar que Kenelly Greycy, sua filha mais velha, de 16 anos, além de receber pelo lado do pai, Juca, ainda garfa mais duas boladas porque tem dois filhos com Arnaldinho Morte Certa, o ‘ficante’ dela, também encarcerado. E Anyelle Rayanna, a filha de 14 anos de Edy, já está grávida de Bibinho Corta-Garganta, recentemente preso. Ou seja, mais setecentos mangos vêm aí. Fazendo as contas, mãe e filhas têm um salário mensal excelente, portanto não deixa de ser um negócio bom esse novo GBR - Golpe da Barriga Repaginado.
O Brasil, como sempre, dá mais um show de bola no mundo inteiro, incluindo na potência chinesa, onde, dizem por aí, o governo muquirana cobra da família do executado a bala usada na execução, que mão de vaca... Se há críticas? Claro, já existe quem diga que não demora e os filhos dos presos brasileiros vão receber o Bolsa-Caviar Beluga. Mas é deboche, imagina...
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