V. Exa. Metalurgíssima, meu ídolo!
Tu sabe que eu sou teu fã de carteirinha desde os tempos em que tu subia no caixotinho e ficava azucrinando a indústria e os ricos lá no ABC, tu barbudão e meio sujinho até, com todo respeito, mas nunca que naquela época tu tinha terno desses que tu veste hoje, maior beca, gravata chique, sapato brilhando que só assoalho com cera parquetina... Tu não me leve a mal, mas aquela figura de sindicalista, oxe...
Tu também melhorou a carantonha, ah, melhorou bem, tu tá de cabelo alisadinho, aposto que anda cheiroso de perfume caro, eu soube do roupão das egípcias, bacanas essas coisas de zelite, tu agora zelitou de vez, acho finório isso, o cabra tem de botar esforço p’ra ser alguém na vida, né não? Inclusive tua dona encrenca também mudou p’ra melhor, está cuspida e escarrada a relaxa e goza do senador Suplício, eu nem sabia que tua patroa era loira de nascença (e italiana legítima!), mas ficou, e ficou muito da chibante, ô moléstia! Mesmo o enchimento que puseram nos beiços e na cara dela está meio estufado, porém lindo, e da última vez que a gente viu ela na televisão, tua galega envergava uma opa branca de crochê que fez o nosso orgulho, arre égua! E ainda tem quem diga que a dona Obama é que dita moda, ai, ai, isso é só p’ra puxar o saco porque ela é moreninha americana do norte...
Mas muita gente fala, viu, fala demais, considero inveja, é próprio de quem sente dor de cotovelo, essa gente quer ver o circo pegar fogo...
Vai tudo malemá aqui neste fundão, onde me escondo com a dona patroa e os meninos, só saio mesmo para buscar o bolsa-família, graças a Deus a gente tem um tanto de filho que o bolsa vale como salário, agradeço muito a V. Exa. Metalurgíssima e é por isso mesmo que estou escrevendo esta carta, entre outras coisas, claro.
É que fiquei sabendo de uns trelelês aí e dei p’ra me preocupar um pouco, tu sabe que eu estou contigo e não abro, mas andam falando que a favorita aí não emplaca, estou preocupado, se ela não senta na cadeira p’ra guardar lugar, me desculpe falar, quem vai segurar a vaga p’ra tu voltar outra vez? O que o pessoal comenta é que ela tem um passado meio torto, dizem até que seqüestrou gente, assaltou banco, sei lá, o povo fala demais... Também dizem que é grossa que só a caatinga, bruta, metida p’ra diabo, mentirosa, V. Exa. Metalurgíssima sabe, só quem pode ser grosso, bruto, metidíssimo, mentiroso e até falar um monte de bobagem da gota serena neste país é tu, o resto a gente não deixa barato, estamos de olho.
Tu me diga, vai insistir nessa bruaca? Digo bruaca porque foi essa a palavra que meu compadre Urano usou p’ra falar dela, por conta de uma colega que ela botou p’ra correr aí de Brasília na base da agenda nas costas, não sou eu quem diz, eu sou como tu, não sei de nada, tu me desculpe, mas eu ouço, sabe como é, eu ouço. E tenho ouvido cada uma, nem te conto...
Ó, andam também comentando que seu genro – o marido daquela tua filha que o Collor desencavou e ainda espalhou que tu queria mesmo era fazer dela um anjo, desculpe aí lembrar disso agora que o cabra daquilo roxo é seu amigão do peito, mas... - então, filho é uma penitência, vamos combinar...- pois dizem que seu genro está encrencado num negócio mal explicado de muito dinheiro. Tu devia dar um puxão de orelha no casal, já teve aquela história de um montão de carro para tua filha, fora a empresa do juninho, o negócio dos “dois pau p’ra eu” do Vavá... Família é serpente, tu sabe, e essas coisas vão colando aqui, ali, no fim dá merda, com todo respeito.
E olhe, ninguém aqui neste fundão de Deus sabe o que é o tal de pré-sal, nem mesmo Viriato da Inês, e Viriato da Inês lê jornal todo santo dia, demora bem umas três horas para ler a página, mas não desiste, é um cabra sábio, pois nem ele soube explicar direitinho p’ra nós. Disse só que V. Exa. Metalurgíssima garantiu que esse negócio vai tirar nós do buraco, que agora nós vamos ficar tudo riquíssimo da peste, só nadando na gasolina. Mas me diga aí, não periga o Sarney botar a mãozona dele nessa coisa e ficar com o sal todinho p’ra ele e a família dele, não? Sal é com ele, tu sabe, tu conhece de cor e salteado... Só tu mesmo - tu é o maior, meu ídolo!-, p’ra tirar o povo da miséria na base do sal, imagine...
Tu sabe aquele jornal que o Sarney mandou calar a boca porque estava esculachando com o filho dele? Aquele, de Sumpaulo? Pois tem lá um vivente por nome Mauro Chaves, que escreve sempre contra o teu governo, arre égua, cabra mais safado, e ele inventou um tal Clube dos 16%, que era a quantia de brasileiros, na conta dele, que não lhe apreciavam o valor nem te suportavam, desculpe a franqueza, mas é isso, gente que nunca achou tu um docinho de coco, que te detestava mesmo. Isso até bem pouco tempo. Porque recentemente o canalha do Chaves puxou a pena para comemorar, dizendo que agora já se trata do Clube dos 24%, eis que cresceu a insatisfação contra tu!
Ah, tu vê que o Sarney está coberto de razão, a imprensa é inimiga do Brasil, cacete! Tu precisa tomar uma providência, aquele jornal é o cão sarnento, e tem muita gente que lê aquilo lá! Seu Tonico mesmo, que já foi professor no Amazonas e é revoltado (saber ler sempre dá revolta, num sabe tu?), diz que o salário dele não dá p’ra nada além do casebre que ele tem na beira do rio, fique tu sabendo que seu Tonico te odeia, já aderiu ao tal Clube e fica incentivando meio mundo a assinar a ficha, aquele filho de mulher-dama!
Ou seja, uma coisa aqui, outra ali, é tudo lixo, mas sabe tu como o povo se deixa engabelar facinho, facinho, uma hora dessa temos aí o Clube dos 50%, pior, dos 51%, e tu aí com essa bruaca que ninguém suporta, oxente! Aí, nem a tropa de choque do trio xaxado que tu adora de paixão (Renan, Sarney e Collor) vai poder fazer muita coisa por tu, nem o Ibope espalhando que tu tem 81% de aprovação vai adiantar nadica de nada, afinal esta terra do Brasil, infelizmente, não é só o nordeste, ô tragédia, é isso que me preocupa, cabra, tome tento!
Teu fã e admirador,
J. Egue da Silva
Doca publicou esta crônica no blog: http://www.papolivre.com.br
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