Manual Senatorial
O senador Oquifio Dumaégua da Silva está exultante! Em breve, emplaca no Senado o seu Manual de Ilicitações Lícitas e Desavergonháveis como Fator de Enriquecimento Sem Limites do Agente Público Nacional e Distribuição de Benesses Pluripartidárias à Socapa – A Reforma, escrito a quatro mãos com a colaboração inestimável do mais novo adepto da filosofia dumaeguista, Epitácio Cafeteira. No mais recente (nunca o último, porque o Senado é um celeiro de talentos para o escamoteamento da verdade, a construção de mentiras deslavadas, as falcatruas e as sem-vergonhices de longo alcance, o futuro a Deus pertence...) escândalo da Casa, Cafeteira dumaeguou de vez ao abrir o jogo sobre a contratação secreta de um neto do Sarney: “Contratei porque devia favores ao Fernando Sarney”. Ah, que coisa mais elegante, que fleuma, ô coisa mais bonita de se ouvir, grande Cafeteira!
Pois bem. Dumaégua está que não cabe em si com mais essa adesão (o deputado Sem-Vergonha Imoraes também se declarou abertamente dumaeguista juramentado, no belo episódio do “lixando-se para a opinião pública”) e prepara o lançamento de seu manual reformador da Casa para breve, em recepção regada a champanhe francês legítimo, iguarias trazidas do oriente juntamente com o chef árabe Alli Alliah Houbakih Houballah, uísque escocês com saia e tudo e incluindo no cardápio a contratação do corpo de baile do Balé Porno-Sexy-Erótico das Tresloucadas Holandesas Peladas e Safadíssimas, este último com a função precípua de arejar a dura vida dos senadores machos. “Quá, quá, quááááá, ri-se desbragadamente o relator do manual, ao afirmar que essa farra toda será paga com o dinheiro do povo, “que é para isso que serve essa malta de eleitores”, arremata o senador, coçando com fúria os bagos e chupando os dentes – é de uma finesse chocante...
Dumaégua é o senador que, em entrevista à jornalista Jadilúcia Flores, não só não negou um sem-fim de denúncias negras contra ele, como as reafirmou avidamente, revelou outras tantas, ainda desconhecidas do povo, e fez a apologia de sua conduta via rádio FM. “Sou, mas quem não é?”, é seu lema, com o adendo inédito do extravasamento total, a chamada cara larga, o deboche completo.
Vamos às diretrizes propostas por Dumaégua para acabar com as poucas vergonhas em que se vê envolvido o Senado hoje, deixando tudo muito claro, simples, direto e reto.
Fundo sem Fundo a Fundo Perdido – a criação deste item vai permitir que o senador deite e role com a quantidade de dinheiro que bem quiser, sem necessidade de dar satisfação nenhuma de seus gastos a qualquer mané que queira saber o destino da grana. Povus pagantis non chiare podis, é a máxima dita latina bolada por Dumaégua para embasar a proposta e passar a régua nessa amolação de toda hora algum FDP se insurgir contra o uso da verba indenizatória ou ficar falando que o Sarney recebe uma merreca de 3,8 mil mensais de auxílio-moradia, quando o coitado nem notou o depósito na conta bancária, tamanha a pobreza do recurso, credo!
Cota Funcionário Fantasma e/ou... – criação de 400 cargos para cada senador distribuir entre os seus, como forma de dar grana fácil a essa cambada que só faz pedir dinheiro emprestado, favores e sabe-se lá mais o quê para as ilustres excelências. A medida vai evitar também a apoquentação de jornalistas, por exemplo, que ficam futucando tudo quanto é letra secreta para descobrir que o netinho do Sarney ganhava quase 8 mil reais mensais com seus 22 aninhos de suada “sua bênção, voinho”. Sem contar que elimina dissabores como dar chance a funcionários revoltados e ordinários de dizer, por exemplo, que ninguém no gabinete do Delcídio conhece a Vera Macieira, por acaso também aparentada com o nosso marimbondo de fogo. Assim, efetiva-se a instituição da contratação-fantasma, este baluarte da democracia tupiniquim.
Auxílio Médico-Odontológico-Hospitalar-Fisioterapêutico e Veterinário – extensivo até a 10a. geração de cada senador para parentes, aderentes, apaniguados, etc. O etc. aqui está colocado para dar amplitude à iniciativa e proteger das más línguas amantes de todos os sexos, cangaceiros, matadores, gigolôs, prostitutas, prochenetas e corriolas, que assim terão garantido inclusive o tratamento de saúde no Brasil e em Cleveland não só para eles próprios, mas também para seus animais de estimação e os descendentes destes.
Bolsa-Mamãe-Eu-Quero-Mamá – para a acomodação de parentes nos gabinetes dos colegas, através da atividade do nepotismo cruzado, abundante e aberto, sem que para isso os senadores tenham de passar pelo constrangimento de não saber os nomes desses contratados, como aconteceu com o Delcídio, em relação à mesma Vera Macieira, cujo nome desconhecia. Uma cota de 340 cargos para esta importante providência se já estivesse em vigor, deixaria o senador petista sossegado. E ele ainda poderia dizer apenas: “Ah, tenho direito a 340 cargos, mas deixei as contratações a cargo do Agaciel, porque ele é bom nisso, veja lá na relação dele, essa tal Vera deve constar lá; eu próprio evito envolver-me muito e só indiquei uns 190, estou economizando o dinheiro do povo”.
Pacotinho Tic-Tac - a partir da publicação deste manual, todas as horas excedentes ao limite de quatro trabalhadas às segundas-feiras, serão consideradas extras, assim como o período diário das 18h às 8h da manhã, sábados, domingos, feriados, férias e recessos, tanto para os que trabalham quanto para os fantasmas. Esse pagamento deverá ser com valor triplicado para melhorar os salários de todos e, assim, fazer com que os senadores mantenham seus currais eleitorais afinados com seus interesses.
Passagens Mamão-com-Acúcar – cada senador faz o que quiser com sua cota a ser fixada em 300 passagens nacionais e 250 internacionais aéreas por semestre, com auxílio-viagem estipulado em 150% das despesas gerais feitas nessas viagens e o senador ainda pode usar cota alheia, vender passagens a terceiros, achacar as empresas de aviação, exigir tratamento preferencial nos aeroportos, pagamentos das compras feitas nos free-shops, etc. Enfim, um farrão! * Caput Viúva: em caso de não usar todas as passagens, o senador pode pedir o dinheiro referente.
Xô, Segredo! – nada mais é secreto: falcatruas, roubos, contratações, diretorias, conluios, convênios, grana preta, horas extras, barganhas, favorecimentos, putarias lascadas... Tudo, tudo, tudo, agora é legal e às escâncaras. Isso evita investigações imbecis, reportagens insidiosas, perda de tempo e CPI falsas. E o povo que vá catar coquinho. No brejo.
Doca publicou esta crônica no :
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
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