EMBARGOS INFRINGENTES - DOCA RAMOS MELLO
Embargos Infringentes
Doca Ramos Mello
ddramosmello@uol.com.br
Dos tempos
petistas de outrora nem tão outrora assim, eu gostava muito mais quando Martaxa
perguntava se fulano era casado, se tinha filhos.. E ela própria era casada, na
época, com um franco-argentino, aquilo sim, favorecia o humor nacional e
divertia o Brasil. Agora, ela fez um casamentinho discreto à altura de seu
cargo e idade, quer dizer, perdeu o brilho intenso da estrela, deixou de fornecer
mercadoria para os humoristas de plantão, de certa forma até se recolheu. Tudo
bem que andou arquitetando incentivos a estilistas nacionais para desfilarem em
Paris, mas isso é em nome da cultura, vamos parar de atirar pedras na quatrocentona
porque nem fica bem, parece perseguição. Além disso, ela deixou o Pedro
Lourenço bastante alegrinho com a iniciativa, é isso que importa, o operariado
está salvo, a voz do povo é a voz de Deus, vamos compreendendo aí.
P’ra falar a
verdade, a ministra tem a minha simpatia e eu perdoo tudo nela quanto penso que
foi casada com um sujeito que se vestiu de Super Homem com uma cueca vermelha no
Senado e que, a qualquer pretexto, canta Blowing
in the wind, Jesus tenha pena desta nação!
Porém, a
estrela sempre nos brinda com tipos diversos dignos de nota como Delúbio
(professor de matemática e rico, exemplo para seus colegas que reclamam do
salário), o diastema da piada de salão; a língua presa de Palocci, grande amigo
de Jeanny Mary Corner; Genoino, o condenado compungido; Zé Dirceu, o
exterminador de gatos e por aí vai. Sem falar no Gilberto Carvalho nem na Ideli
Salvatti, porque seria demais num só texto, ninguém merece. Etc. Etc. E também
temos de evitar mencionar Erenice Guerra, para não melindrar a presidência,
cuja titular já traz os cabelos invariavelmente em pé, portanto não se faz
mister relembrar tão doce amiga, agora consultora...
Mas,
falando em tempos melhores, V. Exa. Metalurgíssima mesmo era mais interessante
quando abria aquela bocarra a qualquer hora e em qualquer lugar, para ser aplaudido
por Chico Buarque e Veríssimo. Aliás, dia desses um amigo meu me mandou
mensagem para contar que amigo nosso em comum, brasileiro, jornalista de renome
na França, morador lá há mais de vinte anos, se diz totalmente a favor de Lula
da Silva, afirmando que tudo o que dizem contra o cabra é uma carreata de
mentiras. Ficar a favor do Lula debaixo do aroma de Chanel no. 5 e apreciando
as águas do Sena, até eu... Quero ver com o nariz enfiado no cheiro fétido do
ralo petista e carregando a Sofisticada Organização Criminosa nas costas!
Chico e Veríssimo são dois
intelectuais entendiados, que vão a Paris só para escrever, ai que chique! Ou
seja, não são da zelite, porque a zelite está dando o duro nas escolas,
nas empresas, nas obras da construção civil, nos hospitais, nos empregos mal
pagos, em escritórios, no comércio, nas indústrias, nas ruas... E pagando
contas, e sustentando as famílias com o suor de seus rostos, e sendo explorada
pelos impostos, e morrendo nas filas dos SUS, e sendo assaltada dentro de casa,
e se matando de trabalhar para dar vida boa a mensaleiros... A vida real está a
léguas da militância de grife.
Estou
nessa conversa de cerca-lourenço, mas o que eu quero mesmo é agradecer
muitíssimo ao tal decano do Supremo que nos deu um cano e votou favorável aos
embargos infringentes. Depois do voto, ele apareceu sorridente na capa do
jornal, ou seja, estava feliz feito pinto no lixo, animado como criança em dia
de festa – é o Celsinho de Tatuí, que doce! A bandidagem também deve ter ficado
numa felicidade gloriosa, e assim os brasileiros se sentem reconfortados e agraciados,
o pau não vai comer na casa de Noca, o trem das onze sai ao meio-dia,
Conceição, eu me lembro muito bem, o negócio é levar vantagem em tudo, este
país é uma Brastemp, o Muricy voltou ao São Paulo, a primavera está no ar, a
vida é bela and love is a many splendorous
thing - onde está o Amarildo? O nirvana se instalou entre nós que, em
êxtase democrático, estamos excitados com a grandeza da nossa Justiça, glória a
Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade, hosana, aleluia, Deo
Gratias, quosque tanden, Catilina! E ainda recusamos o rega-bofes dos ianques, aqui
p’ra eles ó, God save the Queen e a soberania nacional, hipi, hipi, hurra, é
pique, é pique...
PQP!
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