Entrevista de Ricardo
Amorim à Forbes sobre emprego, desemprego e significado e relevância das
estatísticas
postado em Entrevistas
05/2014
Forbes
Por Alex Ricciardi
Por quais motivos o índice de desemprego no
Brasil permanece baixo já há um bom tempo, mesmo com a economia do País
semi-estagnada e taxas de juros elevadas?
Muito pouca gente compreende o que o índice de
desemprego representa, isto é, o percentual de pessoas que não tem emprego
entre aquelas que querem trabalhar. A maior parte das pessoas, acha que a taxa
de desemprego representa a percentagem dos que não trabalham em relação aos que
poderiam trabalhar, isto é, a população em idade ativa do país. No entanto,
estes dois números mostram realidades opostas no Brasil. Enquanto a taxa de
desemprego é muito baixa (4,9%) e tem caído desde 2004, o total dos que não
trabalham em relação aos que poderiam trabalhar é enorme (47%) e tem crescido
há mais de um ano. Por este parâmetro, que é o verdadeiramente relevante, a
situação no Brasil hoje é pior do que na maioria dos países europeus, que ainda
vivem a pior crise econômica da região em 80 anos. A explicação porque o
desemprego tem caído, apesar de hoje haver centenas de milhares de pessoas a
menos trabalhando é que a queda no número dos que procuram emprego foi maior do
que a queda do número de empregos. Infelizmente, o que importa para uma
economia não é a taxa de desemprego, mas a porcentagem que está trabalhando em
relação aos que poderiam estar trabalhando porque é ela que determina o total
de produção e geração de riqueza do país. Há 4 razões principais porque milhões
de pessoas deixaram de buscar empregos nos últimos 10 anos, uma positiva e três
negativas. A positiva é que hoje há mais de dois milhões de estudantes
universitários a mais do que há 10 anos e uma parte dos universitários para de
trabalhar e buscar emprego enquanto estuda. A primeira razão negativa é
demográfica. Está acontecendo um envelhecimento da população brasileira, o que
somado a regras que permitem a aposentadoria em idade precoce, tem diminuído a
busca por trabalho neste grupo. As duas outras razões negativas vêm de
políticas do governo. A primeira é o Bolsa Família que, se por um lado tem o
mérito de gerar condições de sobrevivência para milhões de brasileiros, por
outra desestimula outros milhões a trabalhar. A segunda foi a expansão do
seguro-desemprego. Paradoxalmente, nos últimos 10 anos, enquanto o desemprego
caiu de 12,9% p 4,9%, os gastos com abono e seguro desemprego subiram de R$13
bilhões para mais de R$45 bilhões. Mais paradoxal ainda é que quem recebe
seguro desemprego não aparece na estatística de desemprego se optar por não
buscar emprego enquanto está recebendo o benefício, o que muita gente passou a
fazer depois que os benefícios foram ampliados. Em resumo, de mais de um ano
para cá, a estatística de emprego está na direção oposta à realidade do emprego
no país. Nosso grande desafio hoje é não apenas gerar mais empregos, mas estimular
as pessoas a buscarem emprego.
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