Opinião: a incompetência do Itamaraty e do
governo
Fernando Rodrigues
26/08/2013
23:41
O episódio
do senador boliviano que fugiu para o
Brasil tem vários aspectos. O mais
relevante é o que expõe a extrema incompetência do serviço público brasileiro,
a falta de capacidade gerencial e um pendor por colocar sempre a culpa em algum
sujeito oculto –ou em alguém que acaba demitido e pagando o pato sozinho.
Tome-se
como verdadeira a fantástica história do encarregado de negócios do Brasil na
embaixada em La Paz, na Bolívia, Eduardo Saboia. Ele teria tomado sozinho a
decisão de fugir com o senador boliviano Roger Pinto Molina.
Tome-se
também como verdadeiro o fato de o então Ministro das Relações Exteriores,
Antonio Patriota, não saber de nada. E que, pior ainda, a presidente da
República, Dilma Rousseff, também estava em completa ignorância até o senador
boliviano chegar a terras brasileiras.
Aí vem a
pergunta: como é possível a sexta ou sétima economia do planeta não ter um
sistema de filtros e de freios e contrapesos internos para prever que algo tão
disparatado estava para acontecer? O encarregado Eduardo Saboia enviou centenas
de e-mails de alerta.
É
relevante não esquecer que o caso se refere à Bolívia. Por mais que exista um
abominável preconceito contra o país vizinho, trata-se de um parceiro essencial
do Brasil. Consome-se aqui gás vindo de lá. A fronteira entre as duas nações é
extensa. Enfim, não se trata de um país remoto e pouco relevante para os
brasileiros. Ainda assim, por muito tempo a embaixada em La Paz estava sem um
titular.
A demissão de Antonio Patriota do cargo não resolve em absolutamente nada o problema. E qual foi e é o
problema? A péssima administração do Ministério das Relações Exteriores. Essa
deve ser a pasta na qual a relação custo-benefício talvez seja a pior de todas
para os contribuintes brasileiros.
No
Itamaraty os salários são os melhores. Os diplomatas passam um tempo estudando
e já recebendo os salários durante a fase no Instituto Rio Branco. Sabem falar
inglês. Conhecem as regras de boas maneiras, pegam nos talheres corretamente e
sabem escolher um vinho. Quando vão para um posto no exterior, viajam bem e
podem levar um contênier com suas mudanças. Educados na superfície, produzem
uma miragem: seriam a ilha de excelência no depauperado serviço público
nacional.
É um erro
crasso cair nessa esparrela. O valor de recursos que consomem faz dos
diplomatas brasileiros menos eficientes comparativamente do que o pobre coitado
que trabalha numa repartição pública qualquer e não tem um centésimo dos
benefícios do Itamaraty.
Até
porque, afinal, qual foi a grande contribuição da diplomacia brasileira em anos
recentes para que o Brasil prosperasse? É difícil dizer. Durante os anos FHC e
Lula, foram esses políticos-presidentes os responsáveis pelo certo avanço da
diplomacia brasileira, cada um a seu jeito. Não foram grandes diplomatas que
tiveram ideias e propuseram uma política externa mais arrojada. Não fossem os
presidentes, o país andaria de lado no cenário internacional e com a sabujice
de sempre da maioria dos egressos do Itamaraty.
Com as
exceções de sempre, o Itamaraty é um serpentário habitado por fofoqueiros que
vivem falando mal do colega da mesa ao lado, tomando cefezinho, pensando na
piada que farão com o desafortunado que foi removido para a África ou no
sortudo que acabou de ser nomeado para Roma ou Paris.
Já estou
na estrada há muito tempo. Nos tempos de correspondente em Nova York, Tóquio e
Washington, nunca recebi a menor colaboração profissional para obter
informações –além do básico– por parte de diplomatas. Como estudante na Bélgica
e na Inglaterra, pior ainda. Estudantes brasileiros no exterior são quase
desprezados pelos diplomatas e pelo corpo consular. O tratamento é a pontapés.
Sem contar o preconceito latente. Em terras estrangeiras, diplomatas
brasileiros agem como se fosse europeus –mas não sabem como são típicos e
apenas provocam vergonha alheia.
Agora,
ficará no ar, como se fosse um fato isolado, a inépcia de Patriota e de outros
que deixaram a representação da Bolívia acéfala. Dilma demitiu o ministro. Tudo
bem? Não. A responsabilidade é também da presidente e de seus antecessores –FHC
e Lula incluídos– que nunca se preocuparam para valer em colocar essa tropa
abúlica de punhos de renda para trabalhar de verdade a serviço do país –e faço
sempre a ressalva de que há exceções.
A
laborfobia reinante no Itamaraty, o espírito macunaímico da maioria dos
diplomatas brasileiros (não todos) é que produz patetadas como essa recente na
Bolívia.
Dilma
demitiu Patriota. Mas o que ela fará para fazer com que os diplomatas peguem no
batente e melhorem a governança do Itamaraty? Ninguém sabe. Nem ela
.
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