- Publicado em Terça, 02 Julho 2013 20:25
- Escrito por Sérgio P. Muniz Costa
A resultante
das manifestações que ocorrem no País não poderia deixar de ser política e a
essa altura ela está por demais evidente.
O Executivo se arroga a convocar um
plebiscito sem que ninguém saiba o que será perguntado à população, mas que vai
acontecer de acordo com a vontade dele. Se o noticiado envolvimento de setores
do governo com os primeiros incidentes nas ruas e se a pressão de cúpula
exercida pelo Planalto sobre o Congresso, em sincronia com a pressão de base não
fossem suficientes para concluir sobre a manipulação do movimento pelo PT, o
ululante "a quem interessa?" não deixa dúvidas.
O que começou como ato popular por causas
tidas como justas adquiriu uma dinâmica que agora prescinde de motivos e
justificativas para espalhar o caos nas ruas e alimentar a pressão sobre as
instituições e lideranças políticas. Protesta-se sem saber mais por quê. As
manifestações que tomaram de início o cenário cívico das cidades se deslocou
para as periferias, numa manobra estratégica que vai reposicioná-las nos
espaços controlados pelo PT, onde há os maiores problemas de segurança pública,
o que gera um potencial de agitação e violência muito maior. O que aconteceu na
Maré, no Rio, é uma pálida amostra do que pode vir.
Em um cenário ampliado, assiste-se à
tentativa petista de romper o impasse decorrente do esgotamento político,
econômico e moral da fórmula lulista. A resultante disso, materializada na
insatisfação crescente da população, na aproximação entre oposicionistas e
setores que apoiam o governo e na inevitabilidade do desenlace do Mensalão,
delineiam um revés em 2014 que o PT deseja evitar a todo custo.
Não é possível garantir a via que o PT
profundo vai priorizar nos próximos passos: se a radicalização direta que leve a
um vácuo de poder, ou a combinação da pressão de cúpula e de base que dá os seus
primeiros frutos. Repete-se o golpismo quadrienal que o PT pratica desde que
assumiu o poder: em 2005, no Mensalão; em 2009, com o pacote de medidas contra a
imprensa, forças armadas e agronegócio; e, agora, com o emprego de seus
satélites ideológicos radicais para agitação popular, como sempre, no ano
anterior à eleição. É, golpe mesmo, mais um, mais grave e melhor
elaborado.
A oposição liberal ao regime de 1964, que
emergiu vitoriosa em 1985 e fundou a atual República, está sendo suprimida e,
com ela, a democracia no Brasil. Cabe perguntar como chegamos a esse ponto e as
razões resultam da história recente do País.
Um autoritarismo que se reconhecia como tal
e que pregava a auto-extinção é julgado univocamente por um autoritarismo muito
mais abrangente que pretende se eternizar no poder, e pior, sob o manto
democrático.
A batalha pela história está sendo vencida
pela esquerda revolucionária, que conseguiu calar seus companheiros de palanque
das Diretas Já, apagou suas responsabilidades pela ruptura em 1964 e pelo
posterior endurecimento do regime e, por fim, suprimiu da agenda nacional o
potencial de livre iniciativa, autonomia e valorização da atividade produtiva
surgida na década de 1970, substituindo-o pela quimera do Estado.
Neste momento, o maior risco, aquele que
abre um caminho sombrio para o Brasil, é o eclipse das lideranças politicas
comprometidas com a liberdade e a democracia no País. Não é só o PMDB a bola da
vez, mas todos os partidos.
As lideranças políticas têm de vir a
público nas tribunas, nas ruas, nos jornais, nas TV, rádios, em todos os espaços
possíveis, para denunciar o que acontece. Se estamos falando em fim de conchavos
e acordos de gabinetes que corroem a representatividade política no País, este é
o primeiro passo da atitude que tem duas pernas e que há de impedir os efeitos
do tsunami que já secou a praia: reação política e resiliência institucional.
Sérgio Paulo Muniz Costa é
historiador
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