Uma vida cheia de sol
No dia 3 de abril de 1994 – um sábado de Aleluia –
Jérôme Lejeune ganhou o Céu. Aguardavam-no a Virgem Maria e, ao lado dEla, um
monge agostiniano, ansioso e alegre.
Jérôme Lejeune foi um médico francês. Em 1958, aos 32
anos de idade, descobriu a causa da síndrome de Down: um cromossomo extra no
par 21, por isso chamada de Trissomia 21. Devolveu a dignidade a inúmeros
casais, até então estigmatizados, pois descobriu que a síndrome era um
acidente, sem culpa dos pais. Graças a esta e a outras importantes
contribuições, ganhou fama e prêmios internacionais, e é considerado o pai da
genética moderna.
Quando a sua pesquisa avançou, vislumbrou o seu uso por
eugenistas, ou seja, as crianças não desejadas seriam abortadas. Tornou-se um
ferrenho defensor da vida, odiado pelos abortistas pois ninguém conseguia
vencê-lo num debate.
A vida começa na fecundação: “Se um óvulo fecundado não
é por si só um ser humano ele não poderia tornar-se um, pois nada é
acrescentado a ele.”
Como o seu compatriota Saint-Exupéry, sabia que a
contribuição de cada ser humano é única – disse a raposa ao Pequeno Príncipe: “Por
favor, cativa-me!
Se tu me cativas, serás para mim único no mundo. E eu
serei para ti única no mundo. Se tu me cativas, minha vida será como que cheia
de sol; conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros...” Ao
dar a vida (Eu faço morrer e eu faço
viver – Dt 32, 39), a sabedoria divina dá a cada ser humano uma missão única, e
assim, num entrelaçamento de vidas e destinos, quer que levemos as cargas uns
dos outros, para cumprirmos a lei de Cristo. Mais: se,
por um lado, Deus é amor, e, por outro, os portadores da
síndrome de Down são capazes de experimentar um amor puríssimo – um amor
inatingível para nós, ditos “normais” – pergunto: quem é o “normal” nesta
história?
Mais ainda: o aborto é ítem prioritário da agenda de
globalistas e comunistas, para quem a vida não vem de Deus, mas de uma
autorização do Estado. Querem demolir o edifício da civilização retirando a
pedra-angular do respeito aos seus membros mais frágeis. Como ensina o filósofo
Olavo de Carvalho, o importante,
nestes casos, é desmascarar logo de cara a proposta
política subjacente e deixar de lado o lenga-lenga pega-trouxa (direito da
mulher ao corpo, combate à pobreza, superpopulação, direito ao aborto em caso
de estupro etc.).
Por tudo isso, em 1971, discursando no National
Institute for Health (EUA), Jérôme Lejeune disse “vocês estão transformando o
seu instituto de saúde em um instituto de morte”. Naquele dia, mandou uma
mensagem para a esposa: – Hoje perdi o meu Nobel de medicina.
No dia 3 de abril de 1994, Jérôme Lejeune ganhou o seu
Céu. Era sábado de Aleluia, e Maria o recebeu com um beijo. Gregor Mendel o
puxou para um canto e conversaram longamente sobre pesquisa científica e sobre
a vida e sobre o Amor
.
O autor, Ricardo R Hashimoto, é mariólogo e coach. SP 3abr13
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