Quando a conta
chegar
O volume de fatos com os quais nos
deparamos, diariamente, que nos deixam atônitos por sua incoerência, seu
inusitado, sua irracionalidade, revela a existência de alguma coisa estranha nos
interiores palacianos da república que a qualquer momento poderá nos
surpreender.
A posição assumida pelo Brasil no
episódio em que o Padre Lugo foi defenestrado da Presidência da República do
Paraguai por decisão da Suprema Corte de Justiça daquele país, decisão
inquestionável, sustentada nos dispositivos constitucinais vigentes, foi eivada
de incoerências coroadas pelo envio do ministro chamado Patriota, das Relações
Exteriores, ao país vizinho, para tentar interferir no julgamento daquela Corte
Suprema de Justiça. E, eu disse ministro chamado Patriota porque, com certeza,
98% dos brasileiros são incapazes de citar o nome de três ministros do atual
governo.
Comparada essa posição com a adotada
sem qualquer constrangimento em relação à solução dada no caso da ausência de
Hugo Chaves à sua posse para um novo mandato na Presidência da Venezuela, vê-se um comprometimento dos atuais governantes
brasileiros com a ignorância deliberada do estado de direito em favor de atos
políticos de preservação do poder, irreversível.
Os ideólogos, os
economistas e os sociólogos dos governos do PT, passados os ventos
internacionais favoráveis soprados em nossa direção nos últimos dez anos, estão
metendo os pés pelas mãos, perdidos num projeto de esquartejamento da economia
do país, mentindo para a população desavergonhadamente, produzindo maquiagem de
números, descapitalizando empresas estatais, contabilizando dividendos
antecipados, o que compromete a confiança do mercado nessas instituições, frauda
a lei.
Valores altissíssimos transferidos
pelo Tesouro para o caixa do BNDES para que este abasteça os cofres de
instituições do próprio governo em dificuldades de caixa, procedimento que
comprometeria a sobrevivência de qualquer grupo privado e colocaria na cadeia
seus dirigentes, nem são questionados seja no Congresso, seja por instituições
representativas de seguimentos organizados da sociedade. Basta ler nos jornais
as notícias de intervenções em bancos privados por, entre outra fraudes,
maquiagem de balanço.
O quadro político
institucional esfacelado pela atuação populista dos governistas revela a
incompetência da oposição que, já sem sangue nas veias, prossegue sua caminhada
para o auto-sepultamento, em disputas alimentadas pela fogueira das vaidades, de
cadavéricas figuras que não se conformam em ficar fora dos holofotes,
conscientes de sua inutilidade, mas seguros de que sua presença em cena, ainda
que muda, é garantia de impunidade para si e para os
seus.
A sociedade brasileira vem sofrendo
mudanças profundas, estimuladas por ações dos formuladores das políticas sociais
nos últimos governos cuja formação ética e comportamental não encontram
referência histórica.
Sem referência
ética e frêios morais, as primeiras mudanças ocorreram na esfera dos costumes.
Adotou-se a teoria russa do copo d"água
dos anos
20 (*). Liberdade geral.
Tudo pode. O Estado
patrocina tudo. Sexo, drogas, assistência social plena, para todos. O orçamento
do Estado arcava com os custos da liberdade total.
Durou pouco. Em cinco anos o Estado
quebrou. Veio, então, nova lei. Tudo era proibido. Sexo fora do casamento, o uso
de drogas, a vadiagem. Foram necessários mais de 20 anos para que a sociedade
russa redescobrisse referências e princípios que sustentaram a reconstrução da
base familiar que havia sido destruída.
Essas referências não são ensinadas
nos movimentos sindicais nem nos comícios em portas de fábricas. Como a
democracia permite isso, mesmo esses sem referência podem chegar até à
Presidência da República, carregando consigo seus iguais, também sem referência
mas, exatamente, por lhes faltarem princípios, só têm acolhimento em cobertores
do Estado, até porque não são confiáveis.
Sem dúvida, há em gestação um projeto
de permanência no poder do grupo atual como, de resto, acontece com todos que
ascendem ao topo do mando sem princípios éticos e sem qualquer noção de respeito
pelo patrimônio público.
No caso do grupo
atual, o projeto passa pelos caminhos do enfraquecimento das instituições, da
quebra do Estado, da
desfiguração da estrutura familiar e dos valores que permitem ao ser humano
cultuar o respeito por si próprio.
O Brasil e os
brasileiros estão vivendo um período de euforia inusitado. Uma farra às custas
do Estado jamais vista. Uma gastança desenfreada. O Estado está sendo
consumido pela imcompetência e a irresponsabilidade de seus agentes, mandantes e
mandados, diferindo a apresentação da conta que, sem dúvida, vai
chegar.
Os acionistas minoritários da
Petrobras e da Eletrobras, às quais, logo, logo se juntará o Banco do Brasil,
estão sendo escandalosamente prejudicados pelos interesses eleitorais e
populistas dos atuais governantes sem qualquer reação, nem mesmo dos órgãos
responsáveis, diretamente, pela proteção desses
acionistas.
O carrossel da
inconsequência está rodando. Tem muita música, muita dança, muita alegria. Todos
querem participar da festa. Mas, com toda certeza, quando a conta chegar muitos
dos que estão promovendo a festa de agora já estarão vendendo "palestras" em
algum país miserável da África.
Coriolando
Beraldo
Foi consultor jurídico e primeiro
secretário do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da Itaipu
Binacional.
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(*)
referente ao Comunismo na URSS (Séc. XX);
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